"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 23 de julho de 2012

HISTÓRIAS DO JORNALISTA SEBASTIÃO NERY

PEDRO PRIMEIRO

Pedro Aleixo foi o José Dirceu do governo udenista de Milton Campos em Minas, de 47 a 51, eleito com apoio de uma dissidência do PSD. Era secretário do Interior e poderoso coordenador político e administrativo do governo.

Assim, quando levavam os problemas ao saudoso mestre Milton Campos, ele, sábio de saber e de fazer, mandava para Pedro Aleixo:
- Fale com o Pedro primeiro.

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UDN E PSD

Daí Aleixo ter ganho o apelido de Pedro Primeiro. Anos depois, lhe perguntaram qual a diferença entre a UDN e o PSD. Pedro Aleixo respondeu com a vida:

- Milton Campos elegeu-se governador de Minas em 47 por causa da aliança de um pedaço do PSD, liderado por Carlos Luz, com a UDN, contra Bias Fortes, que perdeu. Com isso, o governo do Milton, embora udenista, tinha compromissos com muitos chefes políticos do PSD.

- E eram cumpridos?

- Depende. A UDN pedia nomeação de professores, atendíamos. O PSD pedia nomeação de professores, atendíamos. Os dois pediam transferência do coletor, prometíamos, adiávamos. Mas quando pediam mudança no destacamento de polícia, negávamos. Era problema exclusivo da PM. Senão, ninguém controlaria a PM no Interior.

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A DIFERENÇA

- E onde está a diferença entre UDN e PSD?
- É que o chefe da UDN chegava, nós dávamos as professoras, prometíamos o coletor, mas quando negávamos a troca do destacamento da polícia ele saía furioso e telegrafava para a cidade, punha no serviço de alto-falantes:
- “Viagem fracassada. Governo da UDN não atende a seus correligionários”. E ameaçava romper.
- E o PSD?
- O chefe político do PSD chegava, dávamos as professoras, ele queria o destacamento. Dizíamos que não podia ser. Ele lembrava que havia um lugar de adjunto de promotor. Prometíamos estudar. Ele telegrafava para a cidade, punha no alto-falante:
- “Recebido calorosamente pelo governador e secretários, informo que consegui a próxima nomeação do jovem, filho do coronel fulano de tal, para alta função na magistratura do Estado. Sigo no trem de amanhã”. Era recebido debaixo de foguetório.
O PSD de Milton Campos era o PMDB de Lula. E a UDN, o PT.

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