"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 3 de agosto de 2012

ARQUIVOS SECRETOS DE PINOCHET SÃO REVELADOS

Milhares de arquivos secretos do ditador Pinochet são revelados
Segundo documentos, ditadura chilena trocava correspondências com o Vaticano e o FBI

O ditador Augusto Pinochet durante uma visita a uma fábrica de armas em Santiago, no Chile
Foto: John Perez/AP
O ditador Augusto Pinochet durante uma visita a uma fábrica de armas em Santiago, no ChileJOHN PEREZ/AP


SANTIAGO - A polícia secreta do general Augusto Pinochet liderou uma rede de espionagem dentro e fora do Chile, que cruzava informação com o Vaticano, o FBI, e com outras ditaduras da América Latina. As operações detalhadas na documentação, revelados pela agência alemã DPA, mostram ainda a perseguição a centenas de correspondentes dentro e fora do Chile, como Pierre Kalfon, do jornal francês “Le Monde”, e James Pringle, da revista americana “Newsweek”.
Catalogados e guardados por décadas como confidenciais, os arquivos indicam que os corpos de repressão do Chile, primeiro a Direção de Inteligência Nacional (Dina) e logo a Central Nacional de Informações (CNI), mantinham uma troca de correspondência quase diária com ministros e outras autoridades, para coordenar operações em todo o mundo.
Os textos mostram ainda diálogos com o Vaticano, para neutralizar setores da Igreja que criticavam as violações dos direitos humanos, liderados pelo cardeal Raúl Silva Henríquez.
Segundo os documentos, o diretor da Dina, o coronel Manuel Contreras - hoje preso e cumprindo dezenas de condenações - tinha poder para investigar até os funcionários públicos, como mostra uma circular de 1975.
Intelectuais, como o escritor Ariel Dorfman também foram investigados. As equipes de inteligência enviam ao governo detalhes inclusive de debates em centros de estudo, o que chamam de “ativismo intelectual”.
“Sua excelência (Pinochet) declara que, a partir desta data,público poderá ser contratado sem que previamente se inclua a seus antecedentes  nenhum funcionário um informe da Dina sobre as atividades que ele possa ter realizado, informava o ministro do Interior da época, o general Raúl Benavides.
A documentação revela um esforço contínuo da ditadura em desacreditar a seus opositores e ganhar aliados, operação que envolveu o atual deputado da Renovação Nacional Alberto Cardemil, correligionário do presidente Sebastián Piñera. Cardemil, ex- vice-ministro do Interior na época, enviou arquivos secretos sobre a ONG “Vicariato da Solidariedade” afim de lançar um amplo programa para desacreditar a instituição defensora dos direitos humanos.
Poderes ampliados
Em 1976, os poderes da Dina foram ampliados. O órgão repressor passou a investigar qualquer funcionário. Seu diretor poderia inclusive dar ordens a ministros, como revela o Plano de Operações Épsilon. A iniciativa foi planejada em junho de 1975 por Contreras, diante da vista da Comissão Interamericana de Direitos Humanos ao país.
A estratégia, divulgada em 11 páginas distribuídas a ministros e chefes de serviços da ditadura, tinha como missão “realizar uma campanha de ação psicológica aberta e clandestina” para neutralizar no mundo as denúncias por violações aos direitos humanos.
A coordenação entre a polícia secreta e os ministros continuaram inclusive depois da dissolução do órgão, em 1978. A CNI, que substitui a Dina, impulsionou desde sua criação as operações na Bolívia, Argentina e Brasil, por meio das embaixadas chilenas que enviavam informes periódicos sobre a atividade dos exilados, os meios de comunicação e os organismos humanitários.
03 de agosto de 2012
O GLOBO

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