"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 8 de setembro de 2012

ERRO DO PT FOI TER SE LOCUPLETADO DO QUE ENCONTROU.

E que o Ministério Público Federal não durma distraído...

Há poucos dias, li no blog do jornalista Paulo Moreira Leite comentários muito interessantes sobre o tratamento dispensado pela imprensa na cobertura do julgamento do mensalão pelo STF.


Com a condenação do deputado João Paulo Cunha já dada por certa, fica ratificada pela Justiça a tese de que havia, sim, um valerioduto irrigado por recursos públicos a proporcionar vantagens indevidas a políticos petistas.


O referido colunista da revista “Época” chama a atenção para outro problema não contemplado por jornais, revistas, rádios e TVs: e os recursos privados que, também, eram canalizados para o valerioduto?

Mas, para mim, há ainda um outro aspecto da questão que não está sendo devidamente abordado pela imprensa. Os outros esquemas de Marcos Valério que não estariam vinculados ao PT e ao governo Lula.

Não estou aqui a tratar do também rumoroso episódio do “mensalão mineiro”, de 1998. Note que não me refiro ao caso como o “mensalão do PSDB”. Seria injusto de minha parte, pois, como dizia o deputado Samir Tannus, o que se observa é que, naquela ocasião, “todos comeram no mesmo cocho e beberam na mesma gamela”.

Refiro-me, na verdade, aos esquemas que, no ano de 2004, corriam em paralelo na defesa de interesses em disputa com os do PT, quando Marcos Valério nutria relações para lá de cordiais com Delúbio Soares. E aqui é que eu vejo a má vontade (ou o facciosismo) da imprensa.

O ponto de referência para a indagação de Moreira Leite está no inquérito policial suplementar requisitado pelo ministro Joaquim Barbosa ao delegado Luiz Flávio Zampronha, da Polícia Federal.

Esses autos vazaram e foram publicados na revista “Carta Capital”. Quem tiver tempo e paciência de pesquisar os seus vários volumes verá que o dinheiro que saía do famoso Fundo Visanet pousava nas contas da DNA Propaganda e, dali, era distribuído, da mesma forma, para políticos que queriam mais é ver as caveiras de Lula e seus áulicos.

A busca arqueológica ficaria ainda mais interessante e completa se esses dados fossem cotejados com notícias esparsas de jornais sobre alguns outros empréstimos do Banco Rural à DNA ou à SMP&B, logo após a famosa entrevista de Roberto Jefferson à jornalista Renata Lo Prete, da “Folha de S.Paulo”, em maio de 2005.

A imprensa cumpriria um papel pedagógico em nossa democracia se veiculasse, com rigor e isenção, as “tenebrosas transações” a que se referiu o procurador geral da República, Roberto Gurgel, em todas as suas dimensões.
O erro do PT não foi ter inaugurado um deplorável e pernicioso esquema de corrupção. Foi ter se locupletado do que encontrou, seduzido pelo canto de sereia de um inescrupuloso mercador de negócios privados junto com o poder público.

Da imprensa, mesmo que lamentemos, podemos esperar essa desídia. O que não se pode admitir, sob o signo da forma republicana de governo, é que o Ministério Público durma distraído, sem perceber que a pátria-mãe continuará a ser subtraída depois que os petistas se forem.

08 de setembro de 2012
Sandra Starling

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