"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 10 de novembro de 2012

IDEOLOGIA É A CAUSA DA CRISE DOS ROYALTIES

 


 
Com o aumento da produção prevista para os próximos anos, estima-se que o conjunto da atividade do petróleo, considerando-se também a cadeia de fornecedores e serviços, corresponderá a 20% do PIB do país até o fim da década.
 
Boa parte desse impulso se deve à quebra do ultrapassado monopólio estatal, com uma nova lei que beneficiou especialmente a Petrobras, por livrá-la de uma série de amarras que a burocratizavam e limitavam sua atuação.
 
Em novo ambiente competitivo, a empresa fez parcerias e foi forçada pelo mercado a se tornar mais transparente, ainda que em um grau insuficiente para o ambiente de governança exigido de companhias com acionistas minoritários.
 

Mas, no segundo mandato do governo Lula, o país regrediu na abertura do mercado de petróleo.
A ingerência política sobre a Petrobras afetou seu desempenho operacional e financeiro (evidenciado pela queda de rentabilidade e estagnação na produção de óleo bruto).
A pretexto de combate à inflação, o governo adotou uma política de preços para os derivados que ignorou o mercado, o que não só comprometeu a receita da estatal como desequilibrou o consumo de alguns derivados, tornando o etanol, por exemplo, não competitivo para os produtores.
 
Essa política foi apenas corrigida em parte no governo Dilma, mas o eixo principal, de ignorar o mercado, prevalece. Assim, o Brasil hoje importa um volume de gasolina nunca visto, sem possibilidade de alteração desse quadro antes de 2016. As distorções não se limitaram à ingerência política na Petrobras e à interferência demagógica sobre os preços, mas estenderam-se à antes bem-sucedida trajetória de atração de investimentos para o setor.
 

Com as descobertas na camada do pré-sal o governo resolveu mudar, desnecessariamente, movido apenas a ideologia, as regras para exploração e produção em futuros blocos nessas áreas.
E o pior, paralisou as rodadas de licitação. Há vários anos elas não são realizadas, entre outras razões devido a incertezas que surgiram a partir da disputa política que passou a ser travada em torno da receita de royalties, cujo estopim foram exatamente as mudanças de regras para o pré-sal estabelecidas pelo governo federal.
 

O Congresso acabou chutando para o alto o pacto federativo, deixando estados e municípios do Rio de Janeiro e do Espírito Santo em situação inaceitável de constrangimento financeiro, o que exigirá uma atitude do governo federal ou mesmo um pronunciamento do Supremo Tribunal Federal (STF).
Nada teria acontecido se os estatistas de Palácio não aproveitassem o pré-sal para empurrar um projeto de resgate de parte do monopólio da Petrobras, inclusive convertendo-a numa autarquia de fomento de substituição de importações, com todos os custos inerentes a este tipo de política.
 

Não se pode pôr a perder a oportunidade que representa o setor de petróleo e gás devido a essa coletânea de equívocos com origem em motivação ideológica jurássica sobre o papel do Estado.
 
10 de novembro de 2012

O GLOBO
09/11/2012

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