"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 10 de novembro de 2012

SÓ NOVE? ME ENGANA QUE EU GOSTO...


Dessas intermináveis sessões de julgamento do mensalão, nas quais a nação respira aliviada, surge um número que a todos espanta: 9. Nas referências dos ministros do Supremo Tribunal Federal aos deputados que foram comprados e, portanto, são bandidos como os compradores, ouve-se sempre terem sido 9. É o caso de exclamar o tradicional “me engana que eu gosto”.

Como 375 milhões, que podem ter chegado ao dobro, foram manipulados e desviados para cooptar apenas 9 deputados? Pela lógica e pelo montante dos recursos, terão sido muitos mais. No mínimo 90, que continuam escarnecendo do processo e concorrendo a eleições como se fossem arcanjos e querubins.

Está na hora de o ministro Joaquim Barbosa negociar com Marcos Valério, quem sabe para reduzir sua pena de 40 para 20 anos de prisão, desde que ele se disponha a fornecer a lista completa dos corruptos que levaram bola para votar com o governo. Porque não dá para aceitar que de 513 apenas 9 se tenham deixado cair na tentação de enriquecer mais depressa.

Caso Marcos Valério se disponha a manter o silêncio em troca da garantia de vida, contrato obviamente celebrado nos desvãos do mundo do crime, existirão outros mensaleiros prontos para jogar barro no ventilador em troca de condenações menores. Por que não Delúbio Soares? E a turma dos bancos?

Uma coisa é certa: tanto dinheiro, talvez quase 800 milhões, para conquistar 9 votos, seria sinal de burrice completa. Motivo para os réus pararem na cadeia por estupidez. Porque três anos de falcatruas ostensivamente praticadas pelos detentores do poder e seus asseclas não poderiam redundar em tão pouco.

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DÚVIDA UNIVERSAL

De Sócrates a Spinosa, de Nietzsche a Naum Chomsky, para encurtarmos a lista dos mestres em filosofia, permanece a dúvida universal. Serão a Lei e a Justiça meros expedientes truculentos para manter a dominação dos fortes sobre os fracos? No reverso da medalha, a Ética e a Moral exprimem as armas dos fracos para aliviar a pressão dos fortes?

Vivemos entre essas duas paralelas e delas não nos livraremos, sequer no infinito. A surpresa que vem sendo o julgamento do mensalão não basta para termos certeza de que a impunidade foi para as profundezas. Há um mundo a construir, depois que os mensaleiros estiverem na cadeia. Pelo menos, terá sido um bom começo…

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NEGÓCIOS DA CHINA

Toma-se conhecimento de que, na China, desencadeou-se uma campanha contra a corrupção. Acusações envolvendo até ministros dão conta de que roubaram não milhões, mas bilhões, junto com suas famílias.
Pode ser que o regime, lá, encontre soluções para punir os corruptos, mas a pergunta que fica é como se tornou possível roubar tanto dinheiro assim.
A resposta surge clara: porque estavam, os ladrões, mancomunados com o mundo ocidental, com as empresas e os governos que se lançaram na China como se fosse a caverna do Ali Babá.

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FAZENDO POLÍTICA

Nos últimos dias tem-se registrado intensa atividade política por parte da presidente Dilma Rousseff. Entre jantares e encontros variados, ela parece haver decidido compor as forças dispostas ao redor de seu governo. Claro que com um objetivo maior em vista. No caso, sua reeleição.

Prevê-se que daqui por diante, nos últimos dois anos de seu atual mandato, a presidente tome gosto pelos ajustes, acordos e composições com os partidos.
O singular nessa movimentação é que o PT, partido oficial, torna-se apenas mais um grupo a merecer cuidados, não mais “o grupo”, como imaginavam antigos caciques petistas.

10 de novembro de 2012
Carlos Chagas

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