"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 28 de novembro de 2012

LUCIANA GENRO EXIGE O FIM DE TODAS AS QUADRILHAS POLÍTICAS


Junto com Heloísa Helena, Babá e João Fontes, fui expulsa do PT por votar contra a Reforma da Previdência – a mesma que foi objeto da compra de votos através do mensalão. Quem comandou a nossa expulsão foi José Dirceu e quem executou foi Delúbio Soares, com a anuência de José Genoíno.

Conheço muito de perto todo este episódio da história brasileira. Condenados por corrupção ativa e formação de quadrilha, agora querem se passar por vítimas, como se fossem perseguidos políticos ou condenados sem provas. Nada mais falso.

Estão sendo condenados por crimes de corrupção, por "comprar" parlamentares da direita, por desviar verba publica e uma série de condutas que tem como maior vítima o povo brasileiro.

O voto do Min. Joaquim Barbosa cumpriu importante papel para sepultar falácias, na medida em que nada constrange mais do que a apresentação dos fatos concretos que provam que toda a articulação era promovida pelo então ministro-chefe da Casa Civil. Ou alguém duvida que José Dirceu tivesse o completo "domínio dos fatos"?

Se o Supremo não fosse composto por uma maioria de ministros nomeada por Lula e Dilma, a suspeita de uma perseguição política até poderia ser legítima. Mas não é o caso. Oito dos onze ministros que iniciaram o julgamento foram indicados por eles.

Seria então um complô dos Ministros do STF, nomeados pelo PT contra o próprio PT, que instigados pela mídia anti-petista julgam e condenam sem provas pessoas inocentes? Alegação risível e patética que só serve para o PT tentar justificar o fato de que estes dirigentes condenados seguem filiados, e no caso de José Dirceu, ainda com considerável poder político no partido.

O falso discurso de defesa das garantias constitucionais também não cabe aqui. Nenhum dos réus do mensalão está desprotegido como os pobres que caem todos os dias nas garras do sistema jurídico-penal. O julgamento destes, em geral condenados e encarcerados em prisões imundas, não é notícia, exceto quando um juiz rebelde resolve soltá-los. Aos réus do mensalão não falta dinheiro – quiçá ainda do Valerioduto – e ótimos advogados.

Sim, é verdade que o mensalão começou com o PSDB, que FHC comprou votos para a sua reeleição, que eles não foram sequer julgados e que a mídia pouco fala destes casos (mídia, aliás, que os dirigentes petistas criticam agora, mas que estando no poder há mais de 10 anos nada fizeram para democratizá-la.)

Acontece que a impunidade de uns não justifica a impunidade de outros. É preciso que este sistema político podre seja julgado e condenado. Para isso, seus beneficiários – sejam os operadores práticos, sejam os mentores – terão que ir ao banco dos réus. José Dirceu não é o único que merece estar lá. Mas que ele merece, não tenho dúvidas.

É claro que a condenação de José Dirceu não significa que agora a impunidade de corruptos e corruptores vai acabar. Ao contrário. Condena-se um, mas o balcão de negócios da política FHC-Lula-Dilma continua o mesmo. Ele é fundamental para o gerenciamento dos negócios capitalistas.

Por isso, aos que não aceitam fazer coro com a direita mas que também não querem conviver com a corrupção como um método aceitável para governar – consequência da escolha feita pelo PT que sucumbiu ao regime – resta construir uma alternativa política.

O PT fez história, mas sua veia de esquerda tenta alimentar-se de uma passado que não mais voltará. E hora de olhar para frente e construir o futuro.

(Luciana Genro, advogada, é ex-deputada federal do PSOL. O artigo foi enviado por Mário Assis) 
28 de novembro de 2012
Luciana Genro

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