"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O MUNDO SEM HUGO CHÁVEZ

    
          Notícias Faltantes - Foro de São Paulo 
Chávez dedicou-se a armar as pessoas, a ensinar a ideologia terrorista, a fazer de seus sócios das FARC pessoas ricas e poderosas.
Sem Chávez, o acordo criminoso com as FARC perde valor monetário, pois deixarão de fluir muitos dos rios de dólares do petróleo, da cocaína e da mineração ilegal.
 
Quando nada parecia deter o descontrolado avanço do totalitarismo do século XXI, do nada tudo terminou, pois há algum tempo Chávez não está vivo realmente. Lembram de seus “Alô Presidente” de nove e dez horas em cadeia nacional? Lembram dele prepotente na praça pública de Caracas dizendo:
“Exproprie-se!” e determinando as vidas dos que haviam trabalhado tantos anos, só com o estalar dos dedos?
 
Lembram-no enviando batalhões à fronteira e ameaçando com os Sukoy? Eu lembro muito bem. Hoje, o homem está passando por uma dura prova pessoal, embora talvez não tão dura como a de Franklin Brito e não sou ninguém para julgar.
O que certamente é evidente, é que o modelo que ele levava oxidando a engrenagem política venezuelana está a ponto de colapsar.
 
A enfermidade de Chávez chega, além disso, em um momento no qual as economias da América Latina começam a mostrar sinais de contágio e afetação das crises globais. A Venezuela, particularmente, passou a ser um Estado nitidamente importador.
Na Venezuela tudo se paga com petróleo. Muitas das empresas produtivas foram fechadas, expropriadas ou quebradas pelo punho de ferro de Chávez, ou quem não lembra das imagens dos danos nos melhores hotéis do país? Quem não lembra, dias depois, os hotéis sem valises e com inquilinos permanentes?
 
As políticas de Chávez acabaram com a pouca indústria que um país tradicionalmente dependente do petróleo tinha. Porém, vou inclusive mais além: depois de mais de 10 anos de boom petroleiro, a PDVSA apresenta saldos em vermelho, não pode conseguir empréstimos e a produção de petróleo está em um de seus históricos mais baixos
 
A Venezuela, e os que tornaram o chavismo possível, recolherão tudo o que semearam durante anos: enquanto Chávez designa, em um novo ato de desprezo à democracia, a Nicolás Maduro como seu sucessor, Diosdado Cabello começa em silêncio a batalha pelo poder.
Ambos irão querer se fazer com o botim petroleiro em meio de um grupo de pessoas sectárias, às quais se lhes lavou o cérebro por uma década inteira.
A Venezuela, depois de Chávez, se dará conta de que o único que aglutinava o PSUV era ele e muitos grupos terminarão em aberta disputa entre si mesmos.
Chávez dedicou-se a armar as pessoas, a ensinar a ideologia terrorista, a fazer de seus sócios das FARC pessoas ricas e poderosas.
Sem dúvida, no dia depois de Chávez estes grupos sem uma cabeça no comando, ou talvez com várias, começarão sua carreira revolucionária do mesmo modo que Tirofijo ou o Mono Jojoy.
E como Chávez semeou terror, seguramente as células organizadas das FARC criarão as FARV e tristemente terão que começar a entender a longa luta do povo colombiano contra o terrorismo.
 
No dia depois veremos Evo Morales, Rafael Correa, Cristina Kirchner, entre outros governos da ALBA, fazendo todos os esforços para estabilizar a Venezuela ao redor de uma figura amigável que lhes garanta o mesmo fluxo de recursos que lhes garantia Chávez, mas quem fique a cargo já não terá o mesmo poder para fazê-lo e tampouco haverá muito dinheiro para dar.
Sem dúvida alguma, a justiça poética se encarregará de que os outrora aliados da ALBA voltem-se contra a Venezuela. No dia depois de Chávez haverá muitos incêndios na Venezuela e em todos os outros países da ALBA.
Sem dúvida, com a queda do tirano, mais de um país se verá em problemas internos e seguramente mais de um presidente terá que ir-se. Minha aposta pela primeira é Cristina Fernández de Kirchner.
 
Na Colômbia, o presidente que apostou tudo na sua aliança com Chávez e os beneficiários do socialismo do século XXI terá de novo que fazer aproximações com os que o elegeram, possivelmente com atitudes ensaiadas de fanfarronices contra as FARC, com as quais já havia feito conchavos há muito tempo. Porém, sem Chávez o bolo se reduz, pois com ele se vão as rotas da cocaína que com tanto prazer as FARC haviam recebido.
Sem ele, a mordaça sobre Makled [1] cairá e o povo colombiano entenderá por quê Santos ajudou a silenciá-lo. Sem Chávez, o acordo criminoso com as FARC perde valor monetário, pois deixarão de fluir muitos dos rios de dólares do petróleo, da cocaína e da mineração ilegal.
 
O acordo criminoso que Chávez, Santos e as FARC chamam de “paz” como modo de chantagem, valerá muito menos dinheiro e dará viradas ainda incompreendidas. É claro que Santos quer estabelecer um governo das FARC, mas para isso um Chávez vivo com uma ALBA flutuante são um imperativo.
Sem estes, o governo de Timochenko, ao qual Santos aspira, não terá muito apoio internacional e lentamente transformarão a Colômbia em outra Cuba, isolada, sem nenhum valor.
 
No dia depois de Chávez, o G2 fará o possível para que a Venezuela continue sendo o corpo vivente ao redor do qual o regime parasita, porém já não haverá dinheiro e sem dúvida haverá quem, ante a ausência do ditador, comece a pôr paus na roda cubana. A crise econômica da ilha será insustentável e Fidel Castro passará os dias de sua velhice vendo como Raúl tem que fazer reformas de mercado soltando pouco a pouco o punho de ferro.
 
Este é o momento para que a oposição venezuelana tome as rédeas de si mesma e inicie a reconquista da democracia. Se não o fizerem por eles mesmos ou pela Venezuela, talvez pelos milhões de democratas no mundo que esperamos que o regime do terror chavista passe para sempre aos anais da história.
 
18 de dezembro de 2012
Jorge Monroy
 
Nota da tradutora:
 
[1] Walid Makled, venezuelano de origem síria, foi considerado pelos Estados Unidos como “o mais significativo capo da droga do mundo”.
Capturado em 18 de agosto de 2010 pelas autoridades colombianas com apoio do Estados Unidos, foi requerido em extradição por este país, mas Santos entregou-o a Chávez, a quem havia classificado como o seu “mais novo melhor amigo”, uma semana depois de assumir o governo da Colômbia.
Makled encontra-se confinado em uma cela do SEBIN (Serviço Bolivariano de Inteligência) incomunicável, e depois de sua deportação à Venezuela ninguém mais soube dele.
Chávez temia sua extradição aos Estados Unidos porque lá Makled faria revelações que poderiam depor seu governo, uma vez que ele afirma ter documentos que comprovam estreitíssimas ligações entre ele e seus negócios com Chávez, militares de altas patentes que protegem as FARC, além do alto escalão do governo venezuelano.
O irmão mais velho de Santos, Enrique Santos, é amigo das FARC de velha data e, provavelmente, também mantinha relações com Makled, daí não haver interesse em extraditá-lo aos Estados Unidos.
 
Tradução: Graça Salgueiro

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