"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 11 de dezembro de 2012

UMA NOTA DE TRÊS REAIS


 
 
A cada nova mani­festação oficial do PT a respeito da situação políti­ca nacional fica mais evidente seu desapreço à verdade e à coerência, das quais, desde sempre, o lulopetismo se autoproclama monopolista.



Não fu­giram à regra as declarações do presidente nacional da legenda após a reunião da Executiva na­cional, na semana passada. Rui Falcão repetiu basicamente as mesmas bravatas, as mesmas mistificações e as mesmas pro­messas que o PT. proclama há mais de 30 anos, sem mudar na­da de essencial num discurso que omite, é claro, o fato de que há pelo menos uma déca­da, desde que chegou ao gover­no da União, mudou essencial­mente sua prática política.



Em outras palavras, o partido "dos trabalhadores", que nasceu com o alardeado compromisso de reformular profundamente um sistema político armado pa­ra beneficiar as "elites", aliou-se ao que há de pior no coronelismo brasileiro.



Em nome da "governabilidade" loteou a ad­ministração federal e arquite­tou um atrevido plano de com­pra do apoio dos "300 picare­tas" do Congresso. Abriu espa­ço para seus próprios picaretas atuarem livremente na tarefa de colocar o governo a serviço de interesses privados. Em re­sumo: o PT prega uma coisa e faz outra.



Encontra, porém, uma justifi­cativa para malfeitos, como a corrupção de parlamentares condenada pelo STF: tudo é parte da "missão histórica" de lutar pelos oprimidos. Assim, por se colocar do lado do Bem, o PT tem moral para cometer atos que só parecem condená­veis aos olhos do verdadeiro Mal: as elites opressoras e a burguesia egoísta.



Aí vem Rui Falcão e protesta:

querem des­truir o PT numa campanha que "estimula o preconceito contra a política". Como se o PT já não se tivesse encarregado de estimular vivamente o precon­ceito contra a política, primei­ro, ao descrevê-la como domi­nada por "picaretas"; depois, já no poder, em vez de tentar aca­bar com os "picaretas", ao esco­lher o caminho mais fácil de pu­ra e simplesmente suborná-los.



É claro que as falácias lulope-tistas só prosperam porque plantadas no campo fértil da ig­norância e da desinformação. Assim, uma vez denunciadas, parece mais impressionante do que elas o sentimento de pro­gresso material de um impor­tante contingente de brasilei­ros antes mantidos à margem do consumo. É inegável essa conquista social dos governos petistas e impõem-se, a todos, o dever de lutar para ampliá-la.



O que não se pode admitir é que o mérito dessa e outras rea­lizações seja usado como pre­texto para elidir o enorme de­mérito que significa atrelar o projeto de poder do PT à depre­ciação de valores democráticos e verdadeiramente republica­nos, como a independência da representação popular (que não pode ser comprada); o res­peito às prerrogativas constitu­cionais dos poderes (que não podem ser contestadas confor­me as conveniências); e a im­pessoalidade da administração pública (que não pode ser transformada em repasto de companheiros e companheiras e mero instrumento de poder).



No exercício do poder, o lulo-petismo aproveita-se cinica­mente do fato de a massa popu­lar estar mais preocupada com o próprio bolso do que com questões republicanas. E so­mente a partir de níveis míni­mos de educação, de informa­ção e da consequente conscien­tização política que o simples consumidor se transforma em cidadão capaz de ter o domínio de seu próprio destino. Se a educação não encontra nos go­vernos o nível mínimo de prio­ridade que a verdadeira cons­ciência democrática exige, pelo menos a informação precisa continuar circulando.



E é exata­mente por essa razão - por te­mer os efeitos que, mais cedo ou mais tarde, a informação so­bre suas falácias e mistifica­ções cale na consciência dos brasileiros - que os petistas odeiam a imprensa livre e, mais uma vez, proclamam a ne­cessidade de "regulamentá-la". De novo, dissimulam sua verda­deira intenção: aplicar aqui, em maior ou menor grau, a censu­ra praticada pelo decrépito regi­me cubano, pelos regimes "bolivarianos" da Venezuela, Equa­dor e Bolívia e pelo regime sui generis da Argentina. Em resu­mo, o discurso petista é falso como uma nóta de três reais.


O Estado de São Paulo
11 de dezembro de 2012

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