"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

A LUZ E A TREVA

A Igreja Católica é composta por seres humanos. Não é uma entidade abstrata, uma parte do éter que se materializa ali na Cidade do Vaticano. Foi fundada por homens e desde seus primórdios passou pela Luz e pela Treva, ora foi dominada pelo Bem, ora pelo Mal.


Cristo foi traído quando ainda estava entre nós. E traído por um amigo com quem dividia a mesa e o coração.
Alguém poderia esperar que depois de crucificado e já do lado direito do Pai Ele não seria mais atraiçoado?


Tendo espalhado a Fé no Cristianismo pelo mundo todo, a Igreja se tornou uma instituição que se movimenta de acordo com seu tamanho e peso. Dirigida por pessoas como eu, como você, ela tem momentos de grandeza e momentos de vileza.

Sofre com a ambição, com a inveja, com a intriga, com o veneno, com a beleza, com a paixão, com a dor e com a torpeza. Atrai os que almejam o Céu depois da morte e os que almejam o Céu em vida. Os filhos do Príncipe da Luz e os filhos do Príncipe da Treva. Não há um sem o outro...

Lenta, só recentemente perdoou uma de suas vítimas. Foi de seus mais lindos gestos. Dos mais feios, para mim que não sigo seus ditames mas sigo as palavras que Moisés recebeu de Deus e as do Cristo, foi ter sido inapelavelmente capturada pelos holofotes e bumbos da publicidade.

A mim me fez muito mal o espetáculo da agonia e morte de João Paulo II. Assim como está me fazendo muito bem a decisão de Bento XVI.

O Papa é, antes de tudo, um filho gerado no ventre de uma mulher que recebeu a semente de um homem e o gestou por nove meses. Cresceu, sofreu, foi despertado pela Fé e dedicou-se a uma vida monástica e de estudos.

Considerado por todos que com ele convivem um teólogo brilhante, um intelectual de muitos quilates, Bento XVI é reconhecido como homem tímido e doce; gosta de animais e de música, é firme em suas convicções e correto em suas atitudes.

Ao aceitar o Papado, passou a representar Deus na Terra e a ser Pedro, a pedra sobre a qual a Igreja se sustenta.

Mas isso não impede, nem nunca impediu, que o Papa, como filho de uma mulher e de um homem, meu irmão, seu irmão, envelheça. E os anos, caro leitor, pesam e pesam brutalmente.


Alguns levam esse peso com donaire. Outros, não. Bento XVI está visivelmente envelhecido. Mas sua mente brilhante, não.

Os problemas da Igreja, gravíssimos, ele não alcançou resolver. Imagino o desgaste tremendo que sofreu por não conseguir limpar a Igreja à qual dedicou sua vida.

Joseph é de 1927, sou de 1937. De velhice, já entendo. Ele tem minha inteira solidariedade, sobretudo porque estou convencida que ele, como Pedro, deu um golpe de mestre: sua saída intempestiva e revolucionária sacudiu as estruturas da Basílica.

As maçãs podres hão de cair.

15 de fevereiro de 2013
Maria Helena RR de Sousa

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