"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

RECONTANDO A BAZÓFIA, OU A LOROTA, OU A FANFARRICE, OU A GABOLICE, OU A JACTÂNCIA, OU...

Mais um engodo: Governo “tira 13 mil famílias da miséria” lhes dando R$ 2


 
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O governo Lula sempre é defendido com a bazófia de que teria tirado “40 milhões de brasileiros da miséria”. A conta simplesmente não fecha, mas sempre que um petista é acuado em um debate envolvendo a malversação do PT saca de pronto a arma: “Tirou 40 milhões da miséria”.
 
Poderíamos então presumir que a década de governo petista criou regras mais sólidas para empresas gerarem riqueza, passada à população que passa a trabalhar para elas, quando antes não tinha nada. Poderíamos imaginar que enxugou a máquina pública, fazendo com que os produtos com alto percentual de impostos e média de 2,3% de lucro em seu preço ficassem mais acessíveis ás populações de baixa renda (o Brasil faz parte do trágico rol de países que quer aumentar a riqueza taxando o consumo). Pior ainda pensar assim.
 
Na verdade, tudo não passa de uma gambiarra estatística.
O Brasil mantém algum enriquecimento graças à conjuntura global, embora todo o período petista seja o período dos nossos últimos 50 anos em que menos se cresceu em relação ao mundo, o que significa que a riqueza gerada pela força trabalhadora está indo para o bolso de políticos.
 
Todavia, para poder “fechar a conta”, o governo cria programas assistencialistas e eleitoreiros que, ao invés de funcionarem como o “imposto de renda negativo” de Milton Friedman (defendido também por John Rawls), que permite que as pessoas entrem na zona economicamente ativa e prescindam de tais programas, apenas “introdutórios”, pouco tempo depois, apenas mantém os pobres com alguns trocados a mais, sentindo que sua vida “melhorou graças ao governo”, mas mantendo-os eternamente pobres (e eleitoralmente vantajosos). Não há produção de riqueza que gere produtos mais baratos ou de mais fácil distribuição para essas pessoas.
 
Enquanto a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República define que a “classe média” brasileira é composta por quem tem renda entre R$ 291 e R$ 1.019 familiar per capita (por que tal afirmação geopolítica de estatística de botequim foi proferida pela Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência?), Dilma Rousseff fazia auto-elogio “errôneo” na revista The Economist afirmando que seu partido incluiu 40 milhões de pessoas na classe média. Com R$ 291 por cabeça até eu, né, minha nêga?

“16,4 milhões de ex-miseráveis apenas nos últimos sete meses!”

O método agora é impedir que famílias tenham renda mínima inferior a R$ 70 por cabeça. Para o governo, por exemplo, um casal com três crianças com renda mensal de R$ 350 é “miserável” (R$ 70 por pessoa). Com mais R$ 2 do novo programa “Brasil Carinhoso”, atinge R$ 352 e deixa oficialmente a “miséria” (com renda de R$ 70,40 por pessoa).
 
A meta de Dilma é “acabar” com essa miséria até o início de 2014 para poder se reeleger com novo chavão, repetido irrefletidamente por pensamento automático (e teme-se, obviamente, que a oposição não faça as contas e apresente rapidamente ao público).
 
A conta, novamente, não bate. De acordo o Ministério do Desenvolvimento Social, segundo reportagem da Folha, há ainda cerca de 600 mil famílias na extrema pobreza em todo o país. Antes do lançamento do Bolsa Família, em 2003, havia 8,5 milhões de famílias nessa situação, segundo a pasta.
 
Onde estão os 40 milhões, alardeados por Lula e Dilma? Por que só 8,5 milhões agora? Ademais, não há nada de estranho em haver 9,1 milhões na situação de miséria pré-Lula, e Lula ter acabado justamente com 8,5 milhões, restando agora apenas 600 mil para serem cuidados? Por que há tão pouco no futuro?
 
Por que, afinal, definir que a “miséria” acaba justamente com R$ 291 mensais familiares per capita (segundo a Secretaria Estratégica para reeleição da Presidência), ou com R$ 70 per capita (segundo o Ministério do Desenvolvimento, que precisa ainda cuidar do porvir)?
 
Com números tão próximos (quase 9 milhões “excluídos” da miséria, só restando 600 mil ainda a serem protegidos algo), dá pra se notar que, nitidamente, o governo só pretende redefinir os conceitos de miséria segundo o que bem lhe agrade e não exija muito dispêndio com pobres – aquela gente de que o PT quer distância, obediência e votos.
A população não muda muito, a não ser em alguns caraminguás que recebe como novas bugigangas com que se comprava voto antigamente (como os comícios com cachorro-quente grátis do velho Rio de Janeiro). O PT apenas aprendeu a fazer isso em escala continental.

Deixando a miséria com R$ 2

Situação estranhíssima vivem as famílias que chegavam perto dessa renda proposta pelo ministério (famílias ganhando R$ 70 por pessoa), mas não a atingiam.
 
Solução? Além do Bolsa-Família, entregar R$ 2 com o programa Brasil Carinhoso para tais famílias, e propagar que, com isso, “saíram da miséria”. É a mentira comprada facilmente por setores “progressistas” de extrema-Humanas, pouco interessados em fazer contas na vida antes de apelar para estatísticas que não sabem explicar (ou mostrar onde estão os 40 milhões de “ex-pobres” e atuais classe-média, essa entidade paradoxalmente tão detestada por eles mesmos.
 
É o caso de Luiza Sousa, 51, desempregada em Demerval Lobão, no Piauí. Ganhando mais R$ 2 do Brasil Carinhoso, além dos R$ 140 que já recebia do Bolsa Família, Luiza passou a engrossar a lista de “16,4 milhões de ex-miseráveis”, já que sua família agora saiu da estatística.
 
cocos Governo tira 13 mil famílias da miséria lhes dando R$ 2
 
“Com R$ 2 não dá para comprar nem meio quilo de frango. Comprei um coco hoje com R$ 2″, afirma Luiza, mãe de quatro filhos, que tinha em sua cozinha pão, dois cocos e um pouco de arroz. Próxima a ela, moram Joelina Maria de Sousa, 31, e a filha Jucélia, 7, que também receberam R$ 2 para sair oficialmente da miséria. São esses R$ 2 (que não pagam uma viagem de ônibus simples em São Paulo) que geram uivos de comemoração em petistas. Afinal, saem “oficialmente” (ou seja, pela estatística oficial) da miséria. Na prática, ganham um coco.
 
Comemorando seu cambalacho, Dilma discursava em Teresina, no próprio Piauí: “Quando a gente tem essa preocupação de retirar da miséria (…) estamos não só praticando um ato moral, um ato ético, mas, também, nós estamos olhando para o futuro do Brasil”. Belos cocos, dona presidenta.
 
O programa Brasil Carinhoso foi criado em meados do ano passado para “erradicar a miséria”, o mesmo que o Bolsa Família já pretendia.
Traduzindo: foi criado para dar um banho de loja – não nas pessoas que podem comprar pouco com tal soma, mas nas estatísticas do governo. Ou mais exatamente, do partido querendo se manter no governo.
 
O benefício do Brasil Carinhoso varia de R$ 2 a R$ 1.140, sendo que esse valor máximo é pago a apenas uma única família, segundo reportagem da Folha, que teve acesso a dados com base na Lei de Acesso à Informação (deve ser uma família bem grande, visto que está acima dos R$ 1.019 por capita familiar que são o “teto” do que é considerado classe média pelo governo). Não apenas as piauienses Luiza e Joelina são presenteadas com apenas R$ 2 do governo: há 13,1 mil famílias em todo o país recebendo tal montante do butim de impostos do governo.
A reclamação não é apenas nossa, como mostra Folha:
Economistas ouvidos pela Folha dizem que é preciso levar em consideração outros aspectos, além da renda da família, para se falar em erradicação da miséria.
“A saída da pobreza, efetivamente, é quando a pessoa tem condições de moradia, vestuário, educação, saúde e emprego para poder se autofinanciar”, diz Socorro Lira, coordenadora do doutorado em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal do Piauí (UFPI).
Jaíra Alcobaça, também da UFPI, afirma que iniciativas que trazem algum tipo de melhoria de vida são válidas, mas precisam ser encaradas como políticas emergenciais e também deveriam levar em conta as diferenças regionais.
Claro, poucos dias antes dessa notícia, um dos principais órgãos de atuação petista perante a população, seu bastião urbano de idéias com roupagem pseudo-universitária, a revista Carta Capital soltava a “chocante” reportagem: a riqueza dos 100 homens mais ricos do mundo seria capaz de acabar com a miséria do mundo quatro vezes.
 
Fazendo mais umas continhas, se tal fortuna (algo em torno de 240 bilhões de dólares), acabaria com a miséria no mundo quatro vezes, quer dizer que o Brasil “arrecadando” (eufemismo de “tomar dinheiro à força”) 1 trilhão e meio de reais acabaria com a miséria no mundo três vezes. Com um detalhe: a fortuna dos “alvos” de Carta Capital é trabalho de décadas, às vezes séculos. Já o butim que o governo toma à força do cidadão ele toma todo ano
 
Se é para estatizar a economia para poder “distribuir renda”, parece que a tentativa de passar R$ 1,5 trilhão por ano para garantir R$ 2 mensais (R$ 24 anuais) para 11 mil famílias foi a pior forma possível. Qualquer iniciativa privada faria absurdamente mais. Até Vakinha do UOL conseguiria R$ 266,4 mil anuais com a “população rica” do país, sem precisar de impostos.
 
Será mesmo que é dando um coco a mais para os miseráveis que podemos dizer que o governo está fazendo um bom trabalho de “tirar brasileiros da miséria” e “distribuir renda”, ou será que quem mais deve comemorar os impostos são os políticos dando migalhas à população para poderem tomar ainda mais reeleitos?
 
15 de fevereiro de 2013
Flávio Morgenstern
 

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