"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

LÁ E CÁ! ÉTICA, POLÍTICA E ÁLCOOL

 
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Uma discussão interessante ganhou corpo entre nossos irmãos portugueses. Flagrada em uma blitz da lei seca no início de janeiro, a deputada socialista Glória Araújo encontra-se no furacão de uma polêmica que envolve ética, política e responsabilidade civil.
Às 3h20, no centro de Lisboa, os policiais da Operação Stop pararam o veículo conduzido pela parlamentar, que naquela madrugada retornava da festa de aniversário de 37 anos.
Ao que consta, Glória Araújo não se recusou a soprar o bafômetro, medida largamente utilizada por muitos motoristas brasileiros, sob a alegação de que não se deve produzir prova contra si próprio. O teste no etilômetro acusou 2,41 gramas de álcool no sangue, medida que configura crime segundo o Código da Estrada português.
Esta semana, Glória Araújo comentou o episódio ao jornal i. E lançou sua defesa. Admite que cometeu um erro, mas entende que um flagrante de crime de trânsito não é suficiente para perda de mandato parlamentar.
“A análise que faço do que se passou e do erro que cometi não me leva a concluir que isso me obrigue a renunciar ao meu mandato ou a tomar qualquer outro tipo de atitude para além daquela que já tomei.(...) Serei julgada e a sentença que me for atribuída, cumpri-la-ei como qualquer outro cidadão”, disse Glória Araújo. Não é assim que pensam os leitores do Público.
Em enquete proposta pelo site do jornal, até ontem à tarde, 65% dos internautas afirmavam que a deputada deve renunciar, por dois motivos:
a) Cometeu um crime;
e b) Quem votou no Partido Socialista poderá não se sentir representado pela senhora deputada.
Na outra ponta, 35% dos participantes não viam razão em haver uma punição na esfera política para Glória Araújo.
É de se perguntar se os políticos brasileiros — e os deputados e senadores em particular —, enfrentariam esse gênero de debate por conta de um delito que não tem relação direta com a atividade parlamentar.
Na Câmara dos Deputados que acabou de eleger Henrique Eduardo Alves, segue forte a pressão para a casa legislativa confrontar a sentença condenatória do Supremo Tribunal Federal contra três parlamentares envolvidos no mensalão.
E o novo presidente do Senado acredita que a ética é tão somente um instrumento para se buscar um bem maior, chamado interesse nacional.
Eis aí mais uma das peculiaridades do nosso país.
 
Carlos Alexandre Correio Braziliense
05 de fevereiro de 2013

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