"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

NEM DE ESQUERDA, NEM DE DIREITA, MUITO PELO CONTRÁRIO

 

Nem direita, nem esquerda", afirmou a ex-Ministra Marina Silva no lançamento da Rede Sustentabilidade, em Brasília, no sábado 16 de fevereiro. Ela pretende transformar sua rede num novo partido político, que não será nem de situação, nem de oposição. "Se Dilma estiver fazendo algo bom, vamos apoiar. Se não, não. Parece ingênuo, mas não tem nada ingênuo."

Aí, você para e pergunta: como assim? Se essa tal rede não tem um lado, que posições ela tomará? Como pode um partido que não seja nem oposição, nem situação?

Será um muro em cima do qual todos os ecologistas vão se aboletar? Ou será simplesmente uma ameba apartidária? Marina diz que não é nada disso. "Estamos à frente", diz. "Estamos indo para o mundo do paradoxo."

Se você não entendeu nada, espere um pouquinho mais. O mais espantoso na fala de Marina Silva é que ela pode ser, mais do que sincera, verdadeira.

Um partido que não se deixe aprisionar por dogmas da esquerda ou da direita é possível. Mais ainda: um partido que não seja necessariamente de situação ou de oposição sistemática, e que saiba promover causa coletiva (o bem comum) acima de seus interesses imediatos, é necessário (ainda que pareça inacreditável).


Não que a Rede Sustentabilidade seja um milagre, uma epifania verde. Está longe disso. Só afirmo que a intenção de estar à frente e acima dessa polarização pode conter uma novidade real, embora, de início, ela pareça apenas mais um eco da dissimulação ideológica tão característica dos palanques brasileiros.

Bem sabemos que a política pátria é feita por gente que vive dizendo não ser o que é. A começar pelos líderes de direita, que nunca se declaram de direita.

Em 2011, o então prefeito paulistano, Gilberto Kassab, lançou sua nova legenda, o PSD, com um fraseado inesquecível. "O Partido Social Democrático não será de direita, não será de esquerda, nem de centro."
Atenção para o detalhe: nem mesmo de centro. Em vez disso, seria "um programa a favor do Brasil".


A favor do que mesmo?

26 de fevereiro de 2013
Eugênio Bucci é jornalista

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