"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

TAQUES AGUARDA SUPREMO PARA ACIONAR CONSELHO DE ÉTICA CONTRA RENAN

 
Taques diz que aguarda Supremo sobre denúncia contra Renan para acionar Conselho de Ética. ‘Chega de Senado perdigueiro’, diz Taques em defesa da Ficha Limpa
 

Pedro Taques e o novo presidente do Senado, Renan Calheiros
Foto: Gustavo Miranda / Agência O Globo
Pedro Taques e o novo presidente do Senado, Renan CalheirosGustavo Miranda / Agência O Globo

Logo após o anúncio de sua derrota na disputa pela Presidência do Senado no início da tarde desta sexta-feira, o senador Pedro Taques (PDT-MT) afirmou que aguarda decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) para avaliar se o grupo independente que sustentou sua candidatura irá apresentar denúncia contra o novo presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), no Conselho de Ética do Senado.

- Isso será analisado pelos senadores depois do Carnaval e vai depender do recebimento ou não da denúncia pelo STF - disse Taques.

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, apresentou denúncia ao STF na semana passada contra o senador Renan Calheiros, acusado de peculato, falsidade ideológica e uso de documento falso em 2007, no episódio em que acabou absolvido em processo de cassação no Senado por supostamente ter usado de dinheiro de um lobista para pagar despesas pessoais e por haver utilizado laranjas na compra de empresas. O STF ainda não se decidiu sobre o caso.
Questionado se considerava Renan Calheiros um bom nome para presidir o Senado, Taques afirmou que a avaliação dependerá da decisão que o STF tomar a respeito de abertura de processo contra o presidente da Casa. O senador disse ainda "confiar" no Judiciário, dando o exemplo das condenações do julgamento do mensalão:

- Isso é o Poder Judiciário que vai decidir, o Poder Judiciário tem que dar uma resposta à sociedade brasileira. Eu confio no Judiciário do Brasil, o exemplo é o caso do mensalão. Nós temos quadrilheiros, corruptos, que este ano, com certeza, dormirão em um local que não seja sua casa - afirmou.

- O PGR ofertou uma denúncia seríssima em desfavor do senador Renan Calheiros. Agora, o Poder Judiciário vai ter que falar, nós aqui no Senado teremos que ouvir. O Senado absolveu o senador Renan Calheiros pelo Conselho de Ética em 2007, mas isso não significa absolutamente nada, diversamente do que disse o senador Collor, porque as instâncias são diversas. O Poder Judiciário também é independente, soberano, e esperamos que ele possa trazer o resultado desse processo, porque é um instrumento de dignidade para trazer um resultado ao cidadão - completou Pedro Taques.

Em entrevista coletiva após a apuração dos votos, Taques classificou como "covardes" os senadores que votaram nulo ou em branco. Ao todo, dois senadores votaram em branco e outros dois anularam seus votos.

- Não concordo com voto em branco, nem nulo. O cidadão tem que expor, não pode se omitir e se esconder na covardia do anonimato - disse.

O senador afirmou que, mesmo tendo expectativa de um número maior de votos, estava ciente das dificuldades para obtê-los devido ao peso do PT e do PMDB. Taques disse ainda que o bloco de senadores de oposição à Renan Calheiros deve se reunir depois do Carnaval para articular uma agenda conjunta.

- Estávamos contabilizando um número de mais 3 ou 4 votos, mas sabemos da dificuldade, da força do PMDB e do PT. Não seria possível uma eleição para presidente do Senado sem debate, o que fizemos foi uma proposta de debater ideias. Infelizmente, tivemos esse número de votos, mas a democracia precisa ser respeitada. A maioria, na democracia, vence respeitando os direitos das minorias. Eu agradeço os 18 votos, os partidos políticos que nos apoiaram, o PSDB, o PSB, o DEM, o PDT, o PSOL, parte do PMDB e parte do PTB. Esse grupo se fortalece. Nós já tínhamos reuniões marcadas para depois das eleições para discutir esse grupo no Senado, independentemente de partidos políticos, estamos buscando causas.

Pedro Taques negou que tenha objetivo de ocupar algum cargo na Mesa Diretora e disse que somente irá participar da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). O senador encerrou alfinetando novamente o colega Renan:

- Nós confiamos que o senador Renan e a Mesa que será eleita possam mostrar que estamos aqui para servir à sociedade, não para nos servirmos da sociedade. A ideia é que possamos ouvir, aqui no Senado, o que o cidadão deseja. Há um misto de alegria e tristeza. Alegria, porque as instituições estão funcionando. Tristeza, porque temos funcionários públicos que não prezam pelo princípio do republicanismo e da responsabilidade pública.

‘Chega de Senado perdigueiro’, diz Taques

Mais cedo, antes da eleição, Taques começou seu discurso afirmando ser o perdedor nessa disputa, o “anticandidato”. Mas afirmou que se candidatou pois há vitórias que elevam o ser humano, enquanto outras o rebaixam, remetendo à Renan, o favorito para ocupar o cargo, como denunciado pela Procuradoria Geral da República (PGR).

Com discurso pela ética, Taques se colocou como a candidatura da esperança, e por vezes chamou nominalmente seus pares no discurso, para afirmar ser a opção daqueles que não aceitaram a continuidade e que defendem a Ficha Limpa.- Sou o titular da perda anunciada, do que não acontecerá. Pois existem vitorias que elevam o gênero humano e outras que o rebaixam. Vitórias da esperança e vitórias do desalento. E, tantas vezes, é entre os derrotados, os que perderam, os que não conseguiram, que o espírito humano mais se mostra elevado, que a política renasce, que a sociedade progride.

Entre suas propostas para a presidência do Senado, Taques destacou buscar mudanças para a gestão da Casa, e por fim à servidão do Congresso perante os outros Poderes . Ele defendeu coibir os exageros do Executivo, como o envio de medidas provisórias em exagero. E questionou se seu oponente teria a mesma postura, de “impugnar esses exageros”.

- Quero que a sociedade brasileira observe que as coisas podem ser diferentes, que o passado não precisa necessariamente voltar, que há modos novos e melhores de fazer política, que esta Casa não é um apêndice, um puxadinho do Poder Executivo, mas que estamos aqui também pelo voto direto que nos deram o bom povo de nossos Estados. Chega do Senado-perdigueiro , chega do Senado-sabujo , somos senadores, não leva-e-trazes do Poder Executivo!

No final do discurso, a um plenário silencioso, Taques terminou afirmando ser o candidato da defesa da Ficha Limpa, cutucando Renan.

- Posso ser um perdedor, mas para mim, a lisura, a transparência, o comportamento austero são predicados inegociáveis de um Presidente do Senado. Será que os vencedores também poderão dizê-lo?- disse. - Nós, os que vamos perder, saudamos a todos, com a dignidade intacta e o coração efusivo de esperança.

01 de fevereiro de 2013
Flávia Pierry e Júnia Gama - O Globo

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