"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 29 de março de 2013

QUEM CONTROLA O CONTROLE?

 

Quanto riso, quanta alegria no partido de reguladores da mídia: exultam ao citar como exemplo as medidas que a Inglaterra tomou para domar seus tablóides amalucados. E, com o cinismo que os caracteriza, querem usar isso como exemplo de que países democráticos, sim, regulam a mídia e que quem resiste a medidas semelhantes no Brasil é um renitente reacionário.

Esquecem de algumas pequenas diferenças: na Inglaterra, os tablóides (notadamente os de Rupert Murdoch, como o News of The World, que acabou sendo fechado ) usaram métodos criminosos para adulterar ou forjar informações.

O que provocou as reações da sociedade e as medidas anunciadas não foram informações desabonadoras ao governo mas o uso de práticas criminosas.

Noticiar o mensalão, denunciar casos de corrupção e criticar medidas do governo não tem nada a ver com uso de chantagem, espionagem através de grampos ilegais ou extorsão que os tablóides, e mais especificamente o News of The World , foram acusados de praticar.

Delitos são delitos e não consta que a imprensa brasileira esteja sendo acusada de praticar ações criminosas que motivem medidas voluntárias de “regulação” como as que estão sendo adotadas na Grã Bretanha.

O órgão regulador criado na Grã Bretanha é independente, de adesão voluntária, prevê a criação de um código de normas, pedidos de desculpas por eventuais erros publicados e direito de resposta às pessoas que eventualmente sejam envolvidas de forma equivocada no noticiário. Uma solução britanicamente civilizada que não tem nada a ver com vingança rancorosa por diferenças políticas.

Agora leia e compare as medidas britânicas com esse item da proposta encaminhada pela CUT e pela FNDC (Forum Nacional de Democratização da Comunicação) e endossada pelo diretório nacional do PT:

“O FNDC reivindica que este Marco Regulatório leve efetivamente à regulação da mídia, e contenha, também, mecanismos de controle, pela sociedade, do seu conteúdo e da extrapolação de audiência que facilita a existência dos oligopólios da comunicação que desrespeitam a pluralidade e diversidade cultural.

Há alguma dúvida a respeito do que possa significar o pedido de “mecanismos de controle, pela sociedade, do seu conteúdo (...) ? É isso mesmo que está escrito: mecanismos de controle de conteúdo. Por quem ? Por que motivo? Que espécie de controle? Quem decide ou define o que é a sociedade, o que é e como ela pretende controlar conteúdos ? E quais são os conteúdos bons e os maus para ela?

É aí que mora a diferença entre o caso britânico e o caso brasileiro, que os petistas, com ar de inocência, preferem fingir que ignoram.

Como se nós - e Paulo Bernardo,o ministro deles,que sabe muito bem quais são as intenções - fossemos idiotas.

29 de março de 2013
Sandro Vaia é jornalista.

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