"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 24 de abril de 2013

CONFORMADOS E PREGUIÇOSOS, BRASILEIROS SE CALAM DIANTE DE AVAL DO BC À BISONHA FUSÃO ITAÚ-BMG

 


Escárnio oficial – Em um país minimamente sério e com um povo sabedor de seus direitos e conhecedor da lógica, algumas decisões tomadas pelo governo brasileiro jamais seriam aceitas, não sem antes provocarem protestos dos mais variados.

Mas no Brasil, essa terra de ninguém, o mais importante até dias atrás era tirar o deputado Marco Feliciano da presidência da Comissão de Direitos Humanos, como se vivêssemos em um reduto de probidade e acertos.

Na terça-feira (23), sem que a massa pensante da população se manifestasse, o Banco Central (BC) aprovou a associação entre o Itaú-Unibanco e o Banco BMG na área de crédito consignado, sob a alegação de que “a operação não gera efeitos adversos à concorrência no mercado avaliado e que apresenta viés pró-concorrencial”.

 Desculpa no complexo “economês” para que a opinião pública não perdesse tempo em entender o negócio que resultou na criação do “Banco Itaú BMG Consignado”.
Que essa parceria bisonha aconteceria todos sabiam, mas é preciso ressuscitar fatos recentes que comprometem a decisão do governo do PT, que chegou ao poder central, em janeiro de 2003, no vácuo do discurso mentiroso da transparência e da retidão.

O mais importante empréstimo consignado feito pelo BMG foi ao Partido dos Trabalhadores, operação que recheou o escândalo de corrupção que ficou mundialmente conhecido como Mensalão. Os empréstimos concedidos ao PT pelos bancos BMG e Rural foram classificados por ministros do Supremo como fraudulentos, quando na verdade foram fictícios.

A explicação para essa epopeia bancária torna-se simples a partir do momento que a recente história política do PT é analisada com mais atenção e afinco. É sabido que no mundo do capitalismo inexistem benemerências e que banqueiros não acordam diariamente para caridades.

O dinheiro arrecadado com a cobrança de propinas em Santo André, no ABC paulista, estava depositado em contas bancárias no exterior e precisava ser repatriado de alguma forma.
E esse conjunto de empréstimos dúbios foi a saída encontrada pelos alarifes que ainda insistem em afirmar que o assassinato de Celso Daniel foi um crime comum. Coincidência ou não, o BMG conseguiu escapar do maçarico condenatório que foi aceso durante o julgamento da Ação Penal 470, no Supremo Tribunal Federal.

No contraponto, o Banco Itaú-Unibanco, que há muito investe em propaganda e marketing para vender aos clientes uma imagem de retidão, fechou os olhos para esse escárnio que emoldurou o maior escândalo de corrupção da história política brasileira.

Para quem não se recorda, essa parceria aprovada pelo BC torna-se ainda mais obtusa quando relembramos o moribundo fim do Banestado, instituição financeira que pertencia ao governo do Paraná e que mereceu uma CPI no Congresso Nacional, que deu em nada depois de um acordo espúrio com o PT.

O Banestado transformou-se, por meio das contas CC-5, em um misto de lavanderia financeira e catapulta de dinheiro ilegal para o exterior. A um passo da bancarrota, o Banestado acabou no colo do Itaú, através de operação capitaneada por fundos abutres de investimentos gerenciados pelo Goldman-Sachs. Os chamados créditos podres foram comprados por valor simbólico, sem que aos devedores fosse dado o mesmo privilégio, ou seja, o da quitação das dívidas com acintosos descontos.

Antes de assumir a operação do Banestado, o Itaú aguardou a liquidação da polêmica agência de Nova York do outrora banco estatal paranaense. A ordem para essa faxina de liquidação partiu de Tereza Grossi, então funcionária do Banco Central, que disparou para a mais badalada cidade do planeta um dos seus estafetas, o polêmico Vânio Aguiar. Para quem não se recorda, Tereza Grossi foi condenada pela Justiça Federal, juntamente com antigos parceiros do BC, na operação de salvamento dos bancos Marka e Fontecindam.

No mundo as coincidências simplesmente inexistem, exceto quando o vil metal fala mais alto. Por causa desse apêndice permissivo da regra, a coincidência fez com que Tereza Grossi acabasse na diretoria do Itaú, enquanto Vânio Aguiar abocanhava o cargo de liquidante do Banco Santos, cuja falência classificamos, sem receio de qualquer equívoco, como uma das mais covardes operações do mercado financeiro verde-louro.

24 de abril de 2013
ucho.info

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