"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 30 de maio de 2013

BOLSA FAMÍLIA DESENTROSAMENTO SURGE NA ÁREA DO GOVERNO


A entrevista do presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Hereda, publicada nos jornais de terça-feira 28, publicada com o devido destaque, veio acentuar a existência de pelo menos um desentrosamento na área do governo. Sem dúvida.
 
Basta ler melhor a reportagem sobre o tema, de Demétrio Weber, O Globo. Para início de conversa, Hereda saque o primeiro escalão do executivo desconhecia a antecipação do pagamento.
 
Começou na sexta-feira, surpreendentemente, véspera da veiculação da onda de boatos, tanto sobre o fim do programa, quanto pela liberação de uma parcela a título de abono pela passagem do Dia da Mães.
O vice-presidente da CEF, José Urbano Duarte, entretanto havia afirmado que o pagamento foi liberado no sábado diante do tumulto registrado. Em todo o país, 900 mil pessoas inscritas sacaram um montante de 152 milhões, ressalta a matéria de O Globo, só no sábado. No domingo os saques prosseguiram.
O governo não recorreu à televisão e ao rádio para desfazer a boataria. Por que motivo?
Mas o desentrosamento ficou assinalado também pelas declarações das ministras Tereza Campelo, do Desenvolvimento Social e Maria do Rosário, dos Direitos Humanos. Tereza Campelo disse ter autorizado antecipação do pagamento do mês de maio. Maria do Rosário, pelo twitter, acentuou que os boatos poderiam ter partido da oposição. Depois recuou. Não havia provas. Aliás, não surgiram concretamente até hoje sobre tanto a origem quanto a rapidez da veiculação das notícias falsas.
O presidente Da CEF, Jorge Hereda, afirma agora que não aconteceu nem uma coisa nem outra. O pagamento foi antecipado para corrigir um erro detectado no sistema quando se verificou a existência de milhares de registros duplos no programa. Parece que 690 mil casos. Mas não chegou a ocorrer nenhum saque em dobro. Ora, então qual o motivo da correção? Além disso, existe o fato de serem coisas distintas. Erros no sistema nada têm a ver com boatos sobre o fim do programa e, muito menos, com a decisão de antecipar o pagamento. Uma antecipação de duas semanas praticamente, como aconteceu, já que os primeiros saques foram liberados na sexta-feira. O volume cresceu assustadoramente no sábado. É preciso maior unidade, maior conexão, com entrosamento.
Fatores que faltaram diante da emergência surgida, agravando sua dimensão e conduzindo o episódio a uma crise envolvendo a segunda maior agência financeira do governo. Na frente da CEF, na área estatal, somente o Banco do Brasil. A falta de sintonia, com reflexo na área parlamentar, já havia se evidenciado na votação da Medida Provisória dos Portos. O projeto há três meses no Congresso, para ser aprovado na última hora, exigiu uma sessão corrida de 21 horas na Câmara, avanços e recuos, repetição de emendas de igual conteúdo, e, na escala seguinte, uma sessão rápida demais para a importância do tema no Senado.
O presidente do Senado, Renan Calheiros, disse que o Senado votava pela última vez um projeto de afogadilho, sem conhecer seu conteúdo. Porém a situação semelhante repete-se agora, revelou a Folha de São Paulo, com a Medida Provisória que reduziu as tarifas de energia. Há três meses no Parlamento, para não perder o valor, terá que ser votada até segunda-feira, primeiro na Câmara, logo depois pelo Senado. Engrenagens estão funcionando sem a devida articulação na área do governo.

30 de maio de 2013
Pedro do Coutto

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