"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 27 de maio de 2013

RENDA CRESCE, MAS MISÉRIA SOCIAL PERSISTE

Indicador do governo mostra que pobres não acessam a maior parte dos direitos ligados ao trabalho e educação
 
Pobres têm 29% dos direitos ligados ao emprego atendidos, de acordo com índice sobre a miséria no país
Editoria de Arte/Folhapress 

 
O governo Dilma Rousseff melhorou a renda dos pobres, mas não solucionou seus níveis miseráveis de acesso a emprego e educação.
 
É o que revela um indicador criado pelo próprio governo federal para analisar a pobreza no país, cuja base de dados de dezembro de 2012 a Folha obteve por meio da Lei de Acesso à Informação.
 
Chamado de Índice de Desenvolvimento da Família (IDF), ele é abastecido pelo Cadastro Único (banco de dados federal sobre famílias de baixa renda) e possibilita uma mensuração detalhada da situação do pobres.
 
Em vez de definir a condição social só pela renda, como faz a propaganda oficial, o IDF a divide em seis dimensões: vulnerabilidade da família, disponibilidade de recursos (renda), desenvolvimento infantil, condições habitacionais, acesso ao trabalho e acesso ao conhecimento.
 
Cada uma delas ganha uma nota, que varia de 0 (pior) a 1 (melhor). Juntas, essas seis notas criam uma média geral --que, no caso dos pobres brasileiros, está em 0,61.
 
O índice de renda, por exemplo, está acima da média: 0,63. Esse desempenho tem relação direta com as mudanças feitas por Dilma no Bolsa Família, elevando seu orçamento em 67% (R$ 24 bilhões em 2013).
 
A mais recente ampliação, feita neste ano e portanto não captada pelos dados obtidos, concedeu um complemento para que todos no Cadastro Único tenham renda de ao menos R$ 70 mensais per capita --quem recebe menos é considerado pelo governo como miserável.
 
CAMPANHA
Essa erradicação monetária da miséria no cadastro motivou uma campanha publicitária anunciando que "o fim da miséria é só um começo".
 
Eco da promessa feita por Dilma em 2010 de acabar com a extrema pobreza, o mote estará em sua campanha pela reeleição no ano que vem.
 
O que contradiz o slogan é o desempenho de duas dimensões: acesso ao conhecimento e acesso ao trabalho. O índice da primeira, que capta a situação de adultos e de parte dos adolescentes, está em 0,38. O da segunda, em 0,29.
 
Mudanças na metodologia do uso do índice no cadastro ao longo dos anos e sua não aplicação a outros grupos dificultam uma análise comparativa dos números.
 
O economista Ricardo Paes de Barros, que liderou a criação do IDF há mais de dez anos, diz no entanto que as notas podem ser entendidas como porcentagens do acesso a direitos fundamentais.
 
Aplicando a ideia à nota geral, é como dizer que os pobres brasileiros têm acesso a 61% de seus direitos fundamentais e são privados de 39% deles. Em relação às notas mais baixas, significa dizer que eles acessam só 29% dos direitos ligados ao trabalho e apenas 38% dos relativos ao conhecimento.
 
Esses direitos são mostrados nos 60 componentes que compõem as seis dimensões. Alguns deles detalham os problemas enfrentados na educação e no trabalho.
 
A proporção de famílias pobres com ao menos um adulto analfabeto, por exemplo, supera os 80%. E beira os 70% a porcentagem de famílias nas quais ninguém tem ocupação não agrícola.
 
Como o país experimenta algo próximo do pleno emprego, uma possível explicação para o quadro é que a falta de formação é o maior limitador para que essa fatia da população encontre trabalho.
 
A baixa nota das duas dimensões indica também que o número de pessoas que precisam do Bolsa Família não deve diminuir tão cedo. Emprego e educação são tidas como as principais "portas de saída" do programa.
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário