"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 6 de maio de 2013

RMS TITANIC

 

Se fosse possível identificar uma causa isolada. Se houvesse um culpado. Se a causa tivesse sido um simples erro humano, falha mecânica, ou um ato de Deus, como gostam os juristas, seria mais uma tragédia. Entraria para a historia como estatística e não como drama.

O naufrágio do RMS Titanic escapa da memória estatística e faz parte da memória coletiva como um drama. Acima de tudo, o naufrágio foi consequência de uma sequência de decisões e premissas equivocadas tomadas antes e durante o naufrágio.

Nele, o iceberg foi apenas um detalhe. Entrou para a história e para a memória coletiva como sinônimo de tragédia que poderia ter sido evitada pela simples ação daqueles que estavam em posição de decisão.

Desastres como este, em geral, acontecem em câmera lenta. Os erros vão se encadeando como consequências de decisões baseadas em conveniências e, quase sempre, tomadas a revelia dos fatos.

De muitas formas, o Titanic é uma metáfora sobre as consequências de transformar questões meramente técnicas em assuntos políticos onde interesses, e não as necessidades, são os critérios para tomada de decisões.

Os erros foram se acumulando. O design privilegiava o luxo as expensas da segurança. A hipótese de naufrágio não foi seriamente considerada. O Titanic, afinal, era grande demais para fracassar.

Ignorou-se o ambiente. Naquela região, icebergs flutuam abundantemente. Entretanto, decidiu-se prosseguir na maior velocidade possível.

Decidiu-se, com em muitos outros casos, ignorar os problemas como se eles fossem desaparecer natural e magicamente. Esquecerem de combinar com os icebergs.

Os indicadores foram ignorados. Quando a colisão já havia acontecido, os interesses falaram mais alto. A decisão foi tentar continuar a jornada sem alertar passageiros ou buscar reparos.

A imagem da empresa dona do navio teve prioridade a realidade da gravidade da situação. Foi o triunfo do interesse sobre a necessidade.

Enquanto a água lentamente tomava conta do navio e condenava todos a bordo a experimentar os horrores do naufrágio, a gravidade da situação não era endereçada. Os passageiros ainda, alegremente, continuavam normalmente suas vidas a bordo com a tranquilidade que somente a ignorância pode garantir.

O naufrágio do Titanic deixou a realidade para ser um mito. Serve de alerta e ilustra as consequências de ignorar sinais negativos quando a conveniência politica (ou econômica) assim dita. Por isso, tudo parece bem até o ponto em que não está bem. Mas ai, normalmente, já é tarde.

06 de maio de 2013
Elton Simões mora no Canadá.

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