"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 15 de junho de 2013

AS RAÍZES PROFUNDAS DOS PROTESTOS


Acima e além dos protestos contra o aumento de 20 centavos nas tarifas dos transportes coletivos, as manifestações nas ruas de São Paulo, Rio e outras capitais exprimem a frustração da juventude.

Porque dificilmente se tem visto algum cidadão com mais de trinta anos desfilando pelas ruas. Fora aquele percentual mínimo  de baderneiros empenhados em depredar vitrinas e em destruir e  emporcalhar patrimônio público e privado, a grande maioria dos manifestantes parece provir da classe média.

Os 20 centavos exprimem um símbolo, mas, na realidade, os jovens insurgem-se  contra o modelo político, econômico e social que assola o país.
Não se vê, nessas passeatas explosivas, representantes das classes menos favorecidas, fregueses do bolsa-família ou, mesmo, trabalhadores egressos da miséria,  hoje felizes por haverem mudado de patamar, tornando-se consumidores. Nem  os pimpolhos das elites privilegiadas.
 
Os governos de Dilma, de Geraldo Alckmin, de Sérgio Cabral e outros estão  recebendo um recado, ainda que ninguém grite “abaixo o PT”, “abaixo o PSDB” ou “abaixo o PMDB”.  

Parte da população insurge-se contra as precárias estruturas da educação, da saúde, da habitação,  claro que dos transportes coletivos também,   mas, em especial, contra a  falta de meios  para enfrentar e modificar  o futuro.
 
Quem assistiu a reação da juventude nos idos de 1968 percebe a  diferença de situações. Milhares de estudantes, em perfeita ordem, quase unida, marcharam  pelas avenidas gritando “abaixo a ditadura”. Lá, como cá, a polícia fazia horrores, mas como  estamos na democracia, anula-se o denominador comum que unia os manifestantes.

Hoje, o protesto não se limita aos 20 centavos de aumento no preço das passagens de ônibus e metrô.  Deve-se  à carência de melhores condições de vida dos moços.
Por certo que entram na equação outros fatores, como a  vontade de participação no processo político e  a inclinação pelo inusitado. Não são rebeldes sem causa. Sentem-se oprimidos como seus pais se sentiam,  não mais pelo regime militar, hoje, mas por uma sociedade igualmente perversa para com a classe média.
Baderneiros infiltrados no movimento distorcem seu sentido que seria justo se não fosse prejudicial à ordem pública. É preciso prestar atenção. Haverá desdobramentos.

Fica ridículo assistir a união dos contrários, tucanos como o governador  Alckmin e companheiros como o prefeito Haddad,  atribuindo tudo à irresponsabilidade dos jovens ou à orquestração encenada por adversários radicais. O fenômeno das duas últimas semanas tem raízes bem mais profundas. Poderá esvaziar-se, como é natural em toda explosão, principalmente se a polícia recolher-se apenas  à guarda de propriedades públicas e privadas.
 
APARECE, LULA
 
É inequívoca  a liderança que o Lula exerce no país e, especialmente, em São Paulo. Seria hora dele aparecer, senão no meio das passeatas, ao menos através de  uma palavra capaz de orientar as massas. A omissão constitui pecado superior a qualquer excesso ou exagero.

15 de junho de 2013
Carlos Chagas

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