"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 20 de junho de 2013

MÁSCARA DE PERSONGEM INSPIRADO EM CONSPIRADOR INGLÊS USADA MUNDO AFORA

 
Personagem anarquista que luta contra governo totalitário, popularizada no filme ‘V de vingança’, vira adereço usado em protestos no mundo inteiro

Manifestantes com máscara de “V”
Foto: Agência O Globo / Pedro Kirilos
Manifestantes com máscara de “V” Agência O Globo / Pedro Kirilos

Ele está em toda parte — às vezes no mesmo dia. E protesta contra tudo e por tudo, em diversas línguas. Na metrópole turca Istambul, enfrenta com paus e pedras a polícia do premier Recep Tayyip Erdogan; na capital salvadorenha, São Salvador, participa da marcha do Dia do Trabalho; no centro financeiro alemão, Frankfurt, ergue-se contra a crise econômica; no Rio e São Paulo, grita contra o alto preço das tarifas de ônibus, a corrupção, os péssimos serviços públicos... Nos últimos anos, não há lugar que — palco de alguma confusão ou reivindicação em praça pública — não registre a presença de pelo menos meia dúzia de caras brancas com sobrancelhas, bigode e cavanhaque preto bem delineados.
 
A marca registrada do manifestante globalizado, no entanto, não podia ser menos moderna. Embora popularizada pelo protagonista do filme “V de vingança”, de 2005, a máscara que identifica descontentes de todas as latitudes tem sua origem num personagem do início do século XVII pouco conhecido fora dos países de língua inglesa: Guy Fawkes, um dos integrantes da Conspiração da Pólvora de 1605.
 
Antes de tomar as ruas das cidades do planeta nos dias atuais, Fawkes fazia aparições nos livros de História da Inglaterra como o homem que tramou explodir o Parlamento em Londres, com o rei Jaime I, ministros, parlamentares e toda a família real dentro, na abertura da sessão legislativa na Câmara dos Lordes em 5 de novembro de 1605.
 
Preso, torturado e executado, ele se tornou uma espécie de vilão popular por força da Lei do 5 de Novembro — aprovada em 1606 por aliviados parlamentares após a descoberta da conspiração — que instituía a data como celebração do dia em que o Parlamento foi salvo da destruição. Durante séculos, acenderam-se fogueiras, e Fawkes foi malhado como Judas a cada 5 de novembro.
 
— Os conspiradores queriam testar se uma nação do século XVII podia sobreviver à destruição da classe política, com todos os seus símbolos e monumentos — disse ao GLOBO, da Inglaterra, o historiador Mark Nicholls, do St. John’s College, da Universidade de Cambridge e autor do livro “Investigando a Conspiração da Pólvora”.

— Daquele dia até hoje, o glamour tenebroso do caso tem chocado as pessoas e atraído a atenção delas em igual medida.
 
Nome virou vocábulo da língua
 
A lei caiu em 1859, mas a tradição, exportada para onde quer que tremulasse uma bandeira inglesa, continuou. Com o passar do tempo, a conotação negativa ligada ao personagem foi se perdendo, a ponto de seu nome — antes sinônimo de vilania — ser incorporado ao vocabulário cotidiano dos americanos da forma mais casual possível: guy, no inglês dos Estados Unidos, virou algo como o nosso “cara”.

20 de junho de 2013
Flávio Henrique Lino - O Globo

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