"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 24 de julho de 2013

A DEMOCRACIA NO RIO VIVE TEMPOS SOMBRIOS

 

O sequestro do sociólogo Paulo Baía no dia 18, após ter entrevista publicada n´O Globo com críticas à atuação da PM durante os atos de rua no Rio, é emblemático de como a democracia no Rio vive tempos sombrios.

Baía tem sido preciso em suas análises sobre o “vandalismo” nas manifestações – e talvez por isso mesmo tenha sido forçado por quatro mascarados armados a entrar em um carro sem placa e a ouvir que deve se calar.

"É um grupo que comete crime, não vandalismo. Vandalismo é um termo impreciso, incorreto e que desqualifica a manifestação. Esses que fazem saques são criminosos. E fico muito surpreso de a polícia assistir aos crimes e não agir", descreve Baía em suas entrevistas.

“A primeira linha é formada por anarquistas, trotkistas, leninistas, partidos de oposição que acreditam na violência como meio de revolução. A outra faixa tem funkeiros, skinheads e Black Bloc, que se tornaram visíveis com as manifestações, além dos punks e das torcidas organizadas. Por último, temos os bandos com vínculos com facções criminosas, como traficantes, milicianos e bandidos comuns”, descreve Baía.

Paulo Baída, sociólogo. Foto: Gustavo Stephan / Agência O Globo

Quem participa das manifestações com olhos críticos percebe o mesmo que ele. No ato gigantesco de 20 de junho, eu mesmo vi bandidos comuns primeiro roubar os equipamentos que estavam dentro de um carro do SBT estacionado em frente à estação Praça Onze, do Metrô, e logo em seguida ser incendiado, para dar a impressão de vandalismo.

A PM também viu e, em vez de usar seus soldados infiltrados para prender os ladrões, preferiu brincar de gato e rato com os “vândalos”, atirando a esmo bombas de gás lacrimogêneo.

No ataque à Alerj em 17 de maio, houve a mesma prática. Nesse caso, o tiroteio foi gravado e exibido pela tevê. Policiais descaracterizados atiram balas letais contra os manifestantes e também dão tiros para o alto, espalhando o terror.

Cenas de infiltração policial são fartas e explicam porque a Polícia Civil não investiga a bandidagem, nem a PM a reprime: entre os “vândalos” estão seus pares, que iniciam a violência para justificar a repressão da Polícia, assim, manter o controle sobre a população.

O cenário se agrava à medida que o governador Cabral, calado e na muda, é flagrado em atentados contra o Erário e perde qualificação moral para comandar a tropa, que vai à rua sem controle.
Até o secretário Beltrame, o rei das UPPs, desejado como candidato a qualquer coisa por vários partidos, submergiu. A imprensa colabora: insiste na tese do “vândalo” e omite-se do seu papel de investigar quem de fato quebra e rouba.

24 de julho de 2013
Carlos Tautz, jornalista, coordenador do Instituto Mais Democracia – Transparência e controle cidadão de governos e empresas.

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