"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 17 de julho de 2013

APLICAÇÕES DE BRASILEIROS EM FUNDOS QUE INVESTEM NO EXTERIOR CRESCEM 650%

 
Segundo dados da Anbima, volume aumentou de R$ 6,4 bi para R$ 45,2 bi
 
Está crescendo o número de investidores brasileiros que buscam ativos no exterior através de fundos de investimento. Um levantamento feito pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostra que esse grupo tem atualmente aplicados em ações de empresas estrangeiras, títulos e moedas do exterior, entre outros ativos, um total de R$ 45,2 bilhões.
É um crescimento de mais de 650% em relação a 2010, quando havia R$ 6,4 bilhões investidos lá fora.
 
O levantamento da Anbima considera todos os fundos com uma parcela de recursos no exterior, o que inclui fundos off shore, com investidores de alta renda, até fundos de varejo multimercados, com aplicações iniciais de R$ 10 mil.
 
O movimento de busca de ganhos no exterior começou a se intensificar nos últimos dois anos. O ano de 2011, terminou com um total de R$ 12,9 bilhões em ativos no exterior, através de fundos. Em 2012, esse número saltou para R$ 36,9 bilhões, um aumento de 476%. E, nos cinco primeiros meses do ano, alcançou os R$ 45,2 bilhões.
 
Os fundos que aplicam no exterior podem fazer isso de duas formas. Compram diretamente ações de empresas estrangeiras, moeda ou títulos da dívida de qualquer país. Ou fazem a aplicação de forma indireta: compram cotas de fundos estabelecidos no exterior, que investem nesses ativos.
 
Essa tendência coincide com um cenário de ganhos menores no mercado financeiro brasileiro. Desde julho de 2011, o Banco Central iniciou um movimento de queda da taxa de juro Selic, que baliza os juros de aplicações de renda fixa. A taxa caiu de 12,50% ao ano para 7,25% em março de 2013. Foi uma redução de 5,25 pontos percentuais ou 42% e pela primeira vez na história recente do país a Selic ficou no patamar de um dígito.
 
O impacto nos fundos de Renda Fixa e DI foi drástico. Hoje, o ganho real destes fundos fica na faixa de 0,5%.
 
Na renda variável, o quadro não é diferente. Este ano, o Ibovespa tem perda superior a 20% e nos anos anteriores o ganho também não foi bom. Em 2012, o Ibovespa avançou apenas 7,82%, em 2011 perdeu 18,11% e em 2010 teve um ganho pífio de 1,04%. Esses números, considerando um cenário de inflação crescente e em torno de 6%, tornam a renda variável e a renda fixa ainda menos atraentes.
 
Com poucas alternativas no mercado para diversificar o investimento, buscar ativos no exterior é uma das opções. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão que regula o mercado de capitais brasileiro, permite que fundos apliquem até 20% do patrimônio em ativos no exterior.
 
Já existem inclusive fundos no varejo com aplicação inicial de R$ 10 mil buscando ganhos em ações de empresas estrangeiras. Há outra família de fundos autorizados a aplicar até 100% fora do país, com aplicação mínima de R$ 1 milhão. É o que a CVM chama de investidor “superqualificado”.
 
Um deles é o Fundo BDR Nível 1 da Bradesco Asset Management. Esse fundo tem permissão da CVM para aplicar 100% em papéis de empresas americanas.
 
Os BDRs são recibos de ações de companhias dos EUA negociados na Bovespa. Mas esse produto tem uma exceção: o investidor tem que provar que tem R$ 300 mil aplicados no mercado financeiro, abaixo do R$ 1 milhão dos superqualificados.
 
O fundo aplica em ações de setores como tecnologia, farmacêutico, entretenimento.
Nos últimos 12 meses, a rentabilidade do fundo é de 31,39%. Já o fundo Brasil EUA, da Itaú Asset Management, que é da categoria dos multimercados, aplica até 20% dos recusos em ações de small caps (empresas com baixo valor de mercado). Em 12 meses, o fundo entregou ganho de 18,38% aos cotistas. As taxas de administração variam de 2,5% a 3% ao ano.
 
Demanda acima da esperada, diz gestor
 
Na XP Investimentos, há o fundo XP S&P 500 Capital Protegido FIM, que aplica em opções de compra do índice americano S&P. O índice já subiu 15% este ano, um bom retorno ao aplicador. Como o próprio nome diz, se o fundo não render nada, o investidor também não perde nada e o capital fica preservado.
 
Além disso, o fundo faz também uma proteção (hedge, no jargão dos especialistas) contra a variação cambial para que o investidor não tenha prejuízo com a alta do dólar. O investimento inicial é de R$ 10 mil. Nos últimos meses, a XP lançou mais uma novidade neste segmento.
 
— Temos uma plataforma, que funciona 24 horas, e permite ao investidor negociar contratos nos mercados futuros de suco de laranja, gás, petróleo, açúcar, dólar X iene, dólar X euro, índice S&P 500, ente outros. É uma plataforma destinada aos investidores superqualificados, que devem provar que têm mais de R$ 1 milhão. Mas os negócios nesta plataforma começam a partir de US$ 5 mil — diz Tito Gusmão, diretor de análise da XP.
 
Ele diz que a demanda por negócios foi cinco vezes maior do que a esperada e que a XP começou a preparar relatórios sobre estes mercados para o interessados.
Para o consultor financeiro Miguel Ribeiro de Oliveira, buscar investimentos no exterior é uma forma de diversificar o investimento. E também é uma estratégia de reduzir o risco. Se a Bolsa de Nova York sobe e a Bolsa de Valores de São Paulo cai, é possível compensar uma parte das perdas. Mas também existem riscos.
 
— Há o risco cambial, já que a pessoa investe em reais. É feita a conversão para dólar para aplicar lá, e o ganho é devolvido em reais. Além disso, esses investimentos estão expostos ao cenário econômico do país de origem dos ativos. São fundos destinados para o investidor que aceita correr mais riscos e que pensa no longo prazo — diz Oliveira.
 
O aplicador que coloca seu dinheiro nesse tipo de fundo fica submetido à tributação no Brasil. Paga Imposto de Renda (IR) de 15% nos ganhos com ações ao fazer o resgate ou de 15% a 22,5% se o fundo for um multimercado.
 
17 de julho de 2013
JOÃO SORIMA NETo - O Globo

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