"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 10 de junho de 2012

A PRESENÇA DE IVAN LESSA

Domingo,4:30 da manhã. Cai, lá fora, uma garoa, fina, fria constante. Arrasto os chinelinhos pela casa, nas obrigações matinais. Após a liturgia diária, ligo o computador para ter acesso as notícias do dia e vou direto a Tribuna. É um hábito antigo e saudável!

Dou de cara com o texto do jornalista Ricardo Acampora da BBC /Londres: “Ivan Lessa,o carioca londrino”. Ali, no texto, a notícia da morte do cronista. Penso: “Pô mais um? Nesse ano, já levaram o Chico, o Millôr, agora o Lessa?” Em um só ano, perdemos três “cariocas da gema” como se dizia antigamente.

No antigamente do Rio de Janeiro que esses cronistas amavam tanto, que viveram tanto quanto nó, contemporâneos de uma cidade que teima em não mais existir. Cita o jornalista Ricardo Acampora, no seu texto, o pequeno bar da Av. Rio Branco que o Lessa lembrava de ter o refresco (que saudade da palavra “refresco”) de coco. Era o bar Simpatia, com suas cadeirinhas de vime na calçada, e que era ponto de parada obrigatória nos calores dos verões de então. Era ali pertinho do prédio antigo do Jornal do Brasil, um pouco antes da Galeria Cruzeiro, no Largo da Carioca.

O Lessa também lembrava dos salgadinhos da Colombo, uma delícia, sem esquecer da Cavé, das vitrines da Sloper e suas balconistas tão belas quanto desejadas, do Largo da Carioca, com a Loja Palermo especializada em discos, inclusive importados, onde o João Gilberto se trancava nas cabines de som (é, tinha cabine de som para você ouvir o disco que queria comprar, ou não), para escutar Chet Baker cantando e tocando, apesar das broncas do Acyr, gerente e vendedor da loja.

Para os duros iguais a mim, atravessávamos a Rio Branco e íamos para a rua São José, onde ainda existe um bar que servia ,na época, um bolinho de carne, que a gente pedia para botar no pão e se chamava “malandrinho”. Ou então, corríamos para a Cinelândia e invadíamos a Spaguettilândia, para pedir um espaguetti a bolonhesa ou uma lasanha.

Depois, um cineminha no Rex, que ninguém era de ferro. Depois do cinema,o bonde G. Osório(Gosório), para Ipanema. Ai, já é outra história!

Era assim a época que o Lessa, o Chico e o Millôr conheciam e viviam e que até outo dia, sentia saudades. Nós, que ainda não fomos “sorteados” pelo pessoal lá de cima, ficamos aqui embaixo, reverenciando nossos cronistas maiores, seus textos, seus lugares vividos, com uma sensação de perda irreparável.

Vai, Ivan Lessa, padrinho do Sig do Jaguar, tira um jacaré de peito nas nuvens ai do céu, cria ai em cima um Jangadeiro, um Zepelim ou Sucata, convide o Chico, o Millôr e outros mais e crie um novo Pasquim. Não deixe de cantar todas as musicas de carnaval que você conhece dos anos 40 e principalmente não deixe de escrever nas estrelas uma crônica sobre o assunto.
Aqui embaixo, vamos olhar para o céu, ler a crônica e dizer: ”Esse texto é do Lessa”!

10 de junho de 2012
Paulo Barão

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