"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 22 de julho de 2012

CRÔNICA

Colheita nos EUA”


Esta é uma história verídica, contada pela própria. Certo dia, uma mulher bem-vestida parou em frente de um homem sem-teto, que olhou para cima lentamente.

E reparou que a mulher parecia acostumada com as coisas boas da vida. O casaco era novo. Parecia que ela nunca tinha perdido uma refeição em sua vida. Seu primeiro pensamento foi: “Só quer tirar sarro de mim, como tantos outros fizeram.”

“Por favor, Deixe-me sozinho!”, resmungou o homem. Para sua surpresa, a mulher continuou de pé. Ela estava sorrindo, seus dentes brancos exibidos em linhas deslumbrantes.
“Você está com fome?”, perguntou ela. “Não”, respondeu sarcasticamente. “Acabei de voltar do jantar com o presidente. Agora vá embora.” O sorriso da mulher se tornou ainda mais amplo.
De repente, o homem sentiu uma mão suave debaixo do braço. “O que você está fazendo, senhora?”, perguntou o homem irritado. “Disse para deixar-me sozinho!” Neste momento um policial chegou. “Existe algum problema, senhora?”, perguntou ele. “Não tem problema aqui, policial – a mulher disse – eu só estou tentando ajudá-lo a ficar de pé. Pode me ajudar?” O policial coçou a cabeça. “Sim, o velho João é um estorvo por aqui há anos”. “O que você quer com ele?”, perguntou o policial. “Vê o restaurante ali? – ela disse – Eu vou dar-lhe algo para comer e tirá-lo do frio por um tempo.” “Senhora, está louca?” O homem sem-teto resistiu. “Eu não quero ir para lá!” Então sentiu mãos fortes segurando os braços e levantá-lo. “Deixe-me ir, eu não fiz nada, oficial …”
“Não vê, esta é uma boa oportunidade para você”, o oficial sussurrou em seu ouvido. Finalmente, e com alguma dificuldade, a mulher e o oficial levam João para o restaurante e o sentam a uma mesa em um canto do refeitório.

Era quase quinze horas, a maioria das pessoas já tinha comido o almoço e para jantar o grupo ainda não tinha chegado …. O gerente do restaurante veio a eles e perguntou. “O que está acontecendo aqui, oficial? O que é isso? E este homem está em apuros?” “Esta senhora trouxe-o aqui para comer alguma coisa”, respondeu o oficial.
“Oh! não, não aqui!” – o gerente respondeu com raiva – ter uma pessoa como essa aqui é ruim para os negócios!”
O velho João sorriu com poucos dentes. “Senhora, eu lhe disse. Agora, você vai me deixar ir? Eu não queria vir aqui desde o início.” A mulher virou-se para o gerente da lanchonete e sorriu. “O senhor está familiarizado com Harris & Associates, empresa que fica a duas ruas daqui? “Claro que eu sei”, respondeu o gerente impaciente. “Eles fazem as suas reuniões semanais aqui e jantam no meu restaurante”.
“E você ganha um bom dinheiro fornecendo alimentos para essas reuniões semanais?”, perguntou a Sra.
“E o que importa para você?”, respondeu o gerente impaciente.
“Eu, senhor, sou Penélope Hernandez Harris, presidente e proprietária da empresa. ” — disse ela.
“Oh desculpe!” — disse o gerente. A mulher sorriu de novo.”Eu pensei que isso poderia fazer a diferença no tratamento”, ela disse ao policial, que se esforçou para conter uma risada. “Gostaria de fazer-nos companhia numa xícara de café ou talvez uma refeição, policial?” “Não, obrigado, senhora”, respondeu ”Estou de plantão”.
“Então, talvez, uma xícara de café antes de ir?” — disse ela. “Sim, senhora. Isso seria melhor.” — respondeu o policial. O gerente do restaurante virou nos calcanhares como se recebesse uma ordem.
“Vou trazer o café para o policial imediatamente, Senhora”
O policial observou-a, de pé. E falou: “Certamente colocou-se no lugar”, disse ele.
“Essa não foi minha intenção” – disse a Sra. – Acredite ou não, eu tenho uma boa razão para tudo isso. “
Ela se sentou à mesa em frente ao seu convidado para jantar. Ela olhou para ele … “João, você se lembra de mim?”
O velho João olhou no rosto dela, com seus olhos remelentos: “Eu acho que sim – quero dizer, acho que é familiar.” “Olha, João, talvez eu seja um pouco maior, mas olha-me bem, – disse a Sra. – talvez eu esteja mais gordinha agora … mas quando você trabalhava aqui há muitos anos atrás eu vim uma vez, e por esta mesma porta entrei, morrendo de fome e frio.” — Algumas lágrimas caíam por suas bochechas.
“Senhora? – disse o policial – que não podia acreditar no que estava presenciando, mesmo pensando como uma mulher como aquela poderia ter passado fome. “Eu tinha acabado de me formar na faculdade em minha cidade natal” – disse a mulher – “e vim para a cidade à procura de um emprego, mas não consegui encontrar nada…” Com a voz quebrantada, a mulher continuou: “Quando eu tinha meus últimos centavos e entreguei meu apartamento, andava pelas ruas, sem ter onde morar, e foi em Janeiro, estava frio e, quase morrendo de fome, quando vi este lugar e entrei, pensando numa pequena chance para conseguir algo para comer”. Com lágrimas nos olhos, a mulher continuou falando: “João me recebeu com um sorriso”.
“Agora eu me lembro”, disse João. “Eu estava atrás do balcão de serviço. Ela se aproximou e perguntou se poderia trabalhar para comer alguma coisa.”
“Você me disse que era contra a política da empresa.” – A mulher continuou – “Então, você me fez o maior sanduíche de rosbife que já vi … deu-me uma xícara de café, e fui para um canto para apreciar a minha refeição. Eu estava com medo que você se metesse em encrencas. Então eu olhei e vi você colocar o valor dos alimentos no caixa. Eu sabia que tudo ficaria bem. Encontrei um trabalho naquela mesma tarde. Eu trabalhei muito duro, e eu subi com a ajuda de Deus Pai. Tempos depois eu comecei meu próprio negócio, com a ajuda d’Ele’, prosperei..” Ela abriu sua bolsa e tirou um cartão. “Quando terminar aqui, eu quero que você faça uma visita ao Sr. Martinez. Ele é o diretor de pessoal da minha empresa e vai encontrar algo para você fazer nela.”
Ela sorriu. “Eu vou até adiantar-lhe algo, o suficiente para que você possa comprar algumas roupas e arrumar um lugar para viver até se recuperar. Se você precisar de alguma coisa, minha porta está sempre aberta para você, João.” Havia lágrimas nos olhos do idoso. “Como eu posso agradecer-lhe”, ele perguntou. “Não me agradeça” – ela respondeu. “Deus me trouxe até você.”
Fora do restaurante, o policial e a mulher pararam e antes de ir embora ela disse: “Obrigada por toda sua ajuda!”. Em vez disso, o oficial disse: “Obrigado eu, que vi um milagre hoje, algo que eu nunca vou esquecer’’. E…. E obrigado pelo café”.

Quando jogamos pão sobre as águas, você nunca sabe quando ele será devolvido para você.
Como lembrou outro dia um nosso colega comentarista mas, invertendo o sinal do significado bíblico:
A Semeadura é Opcional mas, a Colheita é Obrigatória


22 de julho de 2012
Magu

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