"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 30 de setembro de 2012

O IPI E OS VOOS DE GALINHA

 

 A incipiente recuperação da indústria e do varejo e o recrudescimento da crise na Europa, com o risco de um provável pedido de resgate da Espanha, recomendam cautela do governo na hora de cortar mais uma vez os benefícios que tem sido concedidos à produção, como é o caso da redução de IPI para a comercialização de automóveis e de produtos de linha branca.

Antes – e os efeitos ainda estão aí, na prática – o país via-se afetado por uma política monetária ortodoxa, na qual a escalada da Selic abortou, por diversas vezes, a manutenção de uma taxa de crescimento razoável e constante, fazendo com que a economia se lançasse a inúmeros “voos de galinha”, que depois foram abruptamente interrompidos pela mudança das regras do jogo .

O país, agora com uma taxa de juros mais próxima do razoável, parece ter se livrado da ditadura das cassandras, que, por meio dos boletins Focus, se dedicavam – e ainda se dedicam, infelizmente – ao esporte de promover a piora das expectativas para se beneficiar direta e indiretamente da alta de juros dela decorrente.

A indústria brasileira precisa de regras estáveis para trabalhar em um mundo cada vez mais competitivo, no qual vários países tentam minorar os efeitos da crise empurrando bens de consumo e mercadorias de todo o tipo para o nosso mercado interno.

Manter intocados por pelo menos um ano os incentivos voltados para a recuperação da produção industrial, incluindo a redução do IPI, ajudaria a dar fôlego ao país para encontrar um rumo em meio à tempestade que assola a economia dos principais mercados mundiais.

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MULTINACIONAIS

Mas isso apenas não basta. Nosso mercado interno, incluindo o automobilístico, não pode continuar entregue apenas a multinacionais. Já passou da hora de o Brasil ter concorrentes nacionais nos diferentes setores da atividade industrial, brutalmente desnacionalizados nos anos noventa, como aconteceu, por exemplo, com o próprio segmento de linha branca e o de autopeças.

Outros países do BRICS, como a China e a Índia, partindo do mesmo patamar (sem falar da Coréia e do Japão anteriormente), conseguiram erguer, graças à participação direta e indireta do Estado, poderosas indústrias automobilísticas nos últimos anos, ou simplesmente adquiriram no exterior, aproveitando a crise ocidental, empresas que já estavam no mercado, detentoras de grandes marcas e de tecnologia avançada, como a Volvo, a Jaguar e a Land Rover.

Aqui, com decisão política e recursos do BNDES, poderíamos fazer o mesmo, em aliança ou não com marcas chinesas ou indianas para conquistar a tecnologia que o primeiro mundo parece não ter o menor interesse em nos deixar desenvolver neste momento.

Afinal, o consumidor que compra um carro fabricado no Brasil – e uma CPI poderia ajudar a desvendar esse mistério – não pode continuar pagando, por modelos similares aos fabricados no exterior, os preços mais altos do mundo.
(Do Blog do Santayana)
30 de setembro de 2012
Mauro Santayana

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