"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 30 de outubro de 2012

OBAMA NO PAÍS DAS PESQUISAS

      
          Internacional - Estados Unidos 
Em nenhum momento, exceto brevemente na primavera de 2009, sua popularidade excedeu a média dos índices de popularidade dos 11 presidentes anteriores!

Um pouco de perspectiva histórica é sempre bom. Eu acabo de analisar alguns estudos comparativos sobre a popularidade dos presidentes americanos desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Concluo que Barack Obama não é um unificador. Ele tem sido agora um presidente partidário e polarizador. Ele também é visto de um modo menos “racialmente neutro” que se poderia pensar, o que eu lamento e que me surpreende.

De todas as promessas feitas por Barack Obama, há uma que ele teria conseguido manter: ele queria ser um presidente “pós-partidário”.

O jovem senador havia dito, uma vez eleito, que governaria com os dois partidos. Ele queria fazer suas as propostas dos republicanos se essas últimas fossem construtivas.

Esta promessa desempenhou um papel importante em sua campanha de 2008. Muitos “independentes” acreditaram nessa promessa. Três anos e meio depois, o veredicto se impõe: Barack Obama tem sido muito partidário.

Ele nunca foi capaz de conquistar para as leis que defendeu – muitas vezes à distância – nada além do apoio de uns poucos republicanos, principalmente para as reformas da saúde e das finanças. Em questões fiscais, de imigração e de educação, por exemplo, os republicanos têm se mantido largamente unidos e contrários ao presidente. Uma parte dos democratas eleitos também forçou o presidente a moderar suas propostas. Obama não tem na maior parte das vezes, especialmente no Senado, conseguido mobilizar o seu próprio partido. Ele nunca foi capaz de conseguir o orçamento que queria, por exemplo.

O que é verdade no Capitólio se confirma junto à opinião pública. Alguns números interessantes mostram a que ponto Barack Obama falhou em seus esforços “pós-partidários”. De acordo com o Gallup, 8% dos republicanos aprovam sua maneira de governar. Ora, 23% dos republicanos gostavam da de governar de Bill Clinton, o democrata. E 25% dos democratas aprovavam a Ronald Reagan, o republicano...

Outro sinal interessante de decepção com o primeiro mandato de Barack Obama: em nenhum momento, exceto brevemente na primavera de 2009, sua popularidade excedeu a média dos índices de popularidade dos 11 presidentes anteriores! Barack Obama esteve quase sempre abaixo de seus antecessores. Tanto pior para a credibilidade da imagem de supremo personagem carismático e adorado que lhe é atribuída na Europa.

Obama, presidente negro?
Citarei alheatoriamente alguns dados da pesquisa Gallup feita com base nas médias flutuantes das últimas três semanas. Trata-se de uma sondagem entre os eleitores registrados. Este ponto é importante porque ele favorece o presidente Obama: todas as pesquisas mostram que os eleitores já decididos a votar estão menos bem dispostos em relação a ele que o total dos inscritos.

Decididos a votar em Obama:

- 44% dos homens
- 35% dos homens brancos
- 43% das mulheres brancas

Acho muito interessante o último percentual. Ele revela que a popularidade do presidente entre as mulheres, que a imprensa não cessa de alardear, é na verdade muito influenciada pela raça da eleitora. Entre todas as raças, as mulheres pró-Obama chegam a 53%...

A América de 2012 já não é dominada por brancos como logo depois da guerra. Mas 64% do país é ainda de “raça branca não hispânica.” O racismo não mais se impõe como na maioria dos anos antes do movimento dos direitos civis. É uma felicidade. É um sinal de maior maturidade e de maior humanidade.

De tudo o que na direita se diz contra o presidente Obama, inclusive nas fileiras mais histéricas, não se vê nunca alguém falar publicamente em questões raciais.

Em privado, eu nunca ouvi comentários racistas de pessoas que poderiam se sentir a vontade para isso e que também detestam Barack Obama. E no entanto eu já ouvi falar, acreditem, em “Obama socialista”, “Obama terceiro-mundista” etc... Eu nunca ouvi alguém falar “Obama, o crioulo”... Nem mesmo “Obama, o negro”. E tanto melhor. Claro, devem haver ainda americanos racistas que falam assim entre eles. De qualquer maneira, eles se escondem. Já é alguma coisa.

Ingênuo, eu pensava que, de repente, o presidente tinha conseguido ser “pós-racial”. Em minha mente de Obama não é mais negro do que branco. Ora, a leitura dessas pesquisas mostrou-me que o sucesso do presidente de transcender as raças é limitado.

Na verdade, é apenas porque 90% dos negros dizem que votarão em Barack Obama que ele tem condições de rivalizar com Mitt Romney hoje. Sem esse apoio maciço (e o menos maciço dos hispânicos, que é de 69%) Barack Obama estaria muito atrás. Registremos que os negros representam 12,6% da população dos Estados Unidos e os hispânicos 16,4%.

Eu não acredito que os americanos brancos sejam racistas. Eu simplesmente noto que a raça tem um papel em suas opiniões. É claro, de qualquer maneira, que tem um papel enorme nos pontos de vista políticos dos negros.

Se Barack Obama for reeleito em 6 de novembro, ele decididamente terá muito trabalho para superar as profundas divisões que estão dilacerando a América. Mas sem os republicanos, que podem manter uma maioria na Câmara, ele não poderia governar...

 
30 de outubro de 2012
Pierre-Yves Dugua é correspondente de economia nos Estados Unidos para o diário francês Le Figaro.
Tradução: Jorge Nobre, estudante de Letras - Tradução Francês da UnB.

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