"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 29 de dezembro de 2012

FELIZ ANO NOVO

 

O PT pavimentou sua chegada ao poder, a partir de 1980, como o grande moralista da política brasileira. Era o grande acusador, que anunciava um outro mundo, tão logo triunfasse.
O triunfo completa em 2013 sua primeira década, sem que se conheça o tal novo mundo. Ao contrário, o país, em matéria de práticas públicas, retroagiu à Velha República, também conhecida como a dos “carcomidos”, que desembocou na Revolução de 1930.

De acusador, o PT passou a acusado, com suas principais lideranças condenadas à prisão pelo STF, exibindo ao público, em matéria de lambança, tudo o que apontava (sem provar) nos adversários.
Hoje, se pode constatar que o comando petista seguia a velha lição de Lênin: “Acuse-os do que você faz”.

A farra não começou com a chegada de Lula à Presidência. Antes, já ensaiara os primeiros passos nas prefeituras que conquistara.
Exemplo mais eloquente foi o de Santo André, cujo desfecho foi o assassinato do prefeito Celso Daniel, que, segundo a família, envolve gente graúda do partido.

Imagine-se o que o partido faria com uma operação policial como a Porto Seguro, que revelasse que o presidente da República misturava alcova e Estado, em prejuízo do interesse público.

Imagine-se ainda o que diria se o filho do presidente entrasse pobre e saísse rico do mandato do pai. O PT acusou diversas vezes o filho de Fernando Henrique de se locupletar às custas do poder do pai, mas foi no mandato do pai que a família de sua mulher teve um banco extinto, o Banco Nacional.
“Acuse-os do que você faz”, eis o lema posto em prática. Brizola chamava o PT de “a UDN de macacão”, aludindo à sua origem operária, que, a exemplo dos udenistas pré-64, adotara o denuncismo como padrão de conduta.

A diferença é que quase tudo o que a UDN denunciava era verdade e suas lideranças, com as exceções de praxe, tinham conduta ilibada.

A face sombria do partido não era a violação ao Código Penal; era sua vocação golpista, que o colocou na linha de frente do golpe militar de 64, sucumbindo, menos de um ano depois, ao veneno que ajudara a destilar.

O golpe, como se sabe, extinguiu em 1965 os treze partidos então em funcionamento, incluindo a aliada UDN e, na sequência, sua principal liderança, Carlos Lacerda, candidato à Presidência da República, de uma eleição que viria a ser cancelada.

Mas essa é outra história. Jamais se soube qual era o projeto do PT para o país. Sabia-se apenas que, quando chegasse ao poder, iria moralizar a vida pública. Diante do strip-tease no STF, o partido busca outra linha de argumentação: roubou, mas distribuiu renda.

Ocorre que a distribuição de renda foi plantada no governo anterior, graças à estabilidade do Plano Real, sem o qual seria impossível os avanços posteriores.

Não se tira o mérito de o governo Lula ter se recusado a aventuras na economia, mas dizer que a distribuição de renda é obra solitária do PT é tão falso como uma profecia maia.
Do governo do PT, pode-se dizer o que Churchill disse do discurso de um parlamentar novato e prepotente: “tem muito de novo e de bom, mas o que é novo não é bom e o que é bom não é novo”. Lula sobreviveu ao Mensalão graças à economia.

Dela dependerá também o futuro de Dilma Roussef. O país, porém, já não respira a mesma prosperidade. O “pibinho” de final de ano acendeu a luz vermelha no painel e o primeiro semestre de 2013 marcará a prisão de petistas ilustres.

Que mudanças isso imporá ao cenário político do país? O que se sabe é que o partido está preocupado e pretende reagir na base de que a melhor defesa é o ataque.
O ministro Gilberto Carvalho anuncia que, em 2013, “o bicho vai pegar”. É uma frase que, em si, não diz muito, mas faz prever um ano politicamente agitado. Uma prévia do que será a sucessão de 2014. Quem viver verá.

29 de dezembro de 2012
Ruy Fabiano

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