"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

CUSTO DE TÉRMICAS JÁ ULTRAPASSA R$ 1 BILHÃO E AMEAÇA REDUÇÃO DE TARIFA

 
Energia é mais cara por causa do combustível; repasse para residências será ao longo de 2013

Empresa de pesquisa do governo afirma que energia pode ser aumentada já em 1,6% e vai crescer em 2013

O uso das usinas térmicas para poupar os reservatórios das hidrelétricas já custou R$ 1 bilhão ao sistema e a conta pode superar R$ 1,6 bilhão em janeiro, segundo o ONS (Operador Nacional do Sistema).

O custo a mais será dividido por todos os consumidores e será sentido pelos residenciais ao longo de 2013, conforme forem sendo feitos os reajustes anuais de tarifa.

Até lá, o custo a mais será assumido pelas distribuidoras. O período de pedidos de reajuste começa em 3 de fevereiro e o percentual depende do aval da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).

Segundo a Abradee (associação das distribuidoras), cada mês de térmicas a pleno vapor significa um ponto percentual de aumento na conta de luz. Por esse cálculo, a redução nas tarifas anunciada pela presidente Dilma Rousseff em setembro já estaria comprometida em quatro pontos -as térmicas estão ligadas desde outubro.

De acordo com o operador, em novembro foram gastos R$ 400 milhões com térmicas, e, em dezembro, R$ 600 milhões, valor que deve se manter em janeiro. Assim, em três meses o custo de operação pode chegar a R$ 1,6 bilhão.

A Abradee diz que o custo foi de R$ 650 milhões em novembro e de R$ 800 milhões em dezembro -R$ 1,4 bilhão em dois meses.

O ONS informou não ter contabilizado o gasto com a operação das térmicas em novembro e dezembro de 2011.

O custo da energia gerada pelas térmicas é maior por causa do combustível usado. Elas podem funcionar a gás natural, óleo diesel, óleo combustível, carvão, lenha, urânio e bagaço de cana.

Nos três primeiros casos, sofrem o impacto da alta dos combustíveis no mercado externo, principalmente do GNL (Gás Natural Liquefeito).

De acordo com o consultor Adriano Pires, a Petrobras já está tendo dificuldade de comprar GNL.

Fornecedores confirmaram a agências de notícias que a Petrobras está pagando um prêmio pelo produto, entre US$ 15 e US$ 17 o milhão de BTU (British Thermal Unit, unidade de medida usada para o combustível). A estatal revende a preços bem menores para as geradoras.

Em nota, a Petrobras informou que quanto paga pelo GNL é informação estratégica e não seria revelada.

Em seu balanço mais recente, do terceiro trimestre de 2012, a Petrobras informou que importava 54 mil barris de GNL por dia, ante 17 mil barris diários no mesmo período do ano anterior.

COBERTOR CURTO
Apesar de afastar o risco de racionamento, o presidente da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), Maurício Tolmasquim, disse que o governo tem pouca margem de manobra se o consumo explodir.

Acrescenta, porém, que o país ainda poderia produzir mais 1.000 MW, acréscimo de 1,6% a toda a energia produzida no Brasil e 7,7% a mais no total das térmicas -640 MW virão de Uruguaiana (RS), desligada desde 2009.

Tolmasquim aponta ainda que "só neste ano vão entrar mais 9.000 MW no sistema". Em média, a capacidade do sistema elétrico subiu 4.000 MW nos últimos dez anos.

A energia mais cara afeta mais diretamente o consumidor industrial que precisa comprá-la no curto prazo.

O preço do KWh nesses casos passou de R$ 90, no verão de 2012, a R$ 555. Mas a maior parte das indústrias que têm uso intensivo de eletricidade faz contratações de longo prazo, com custos de R$ 110, diz Paulo Pedrosa, presidente da Abrace (associação dos grandes consumidores).

"É uma premissa do setor elétrico que se passe por situação de algum estresse."

09 de janeiro de 2013
DENISE LUNA e LUCAS VETTORAZZO - Folha de São Paulo

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