"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

O SAMBA DO BRASILEIRO DOIDO

 

Dezoito anos de vida:
o bloco Imprensa que eu Gamo, formado por jornalistas, já tradicional no Carnaval carioca, está ficando "de maior".
O samba com que desfilou ontem resume tudo:
Carlinhos Cachoeira,
José Dirceu,
Carolina Dieckmann,
Lula,
a moça que vendeu (e diz que ainda não entregou) a virgindade.
 
Mantendo os hábitos carnavalescos, o samba é assinado por uma multidão de autores:
Daniel Pereira,
Anabelly Pontes,
Edu Aveiro,
Tiana, Dennis,
Cláudio de Souza,
Pedro Ivo,
Dani Santos,
Nicola Pamplona,
Fernando Thompson.
 
Vamos a ele:
"Meu bloco tá ficando ‘di maior’ / eu vou pra rua, vou cantando novidade Tirando onda de Camaro amarelo / com a periguete que vendeu a virgindade
Vermelho e cinza, com mais de 50 tons / eu tô na pista e o amor está no ar
Ô Cachoeira, você é um Zé Mané / Cê vai em cana e vão pegar sua mulher.
Zé Dirceu se perdeu / antes ele do que eu
A Carolina todo mundo viu pelada / Menos o Lula que nunca sabe de nada
No andar de cima é Carnaval / Hebe Camargo vai distribuir selinho
Tem Chico Anysio, Niemeyer, Joelmir / Cantando juntos Sílvio Santos vem aí
Laiá, laiá, laiá / Sílvio Santos vem aí
Então imprensa que eu vou... eu vou, eu vou
Então, imprensa que eu gamo, meu amor
Dezoito anos de amizade e alegria / Meu coração tá na pressão da bateria".
 
Tá faltando um
 
O bloco Imprensa que eu Gamo só podia mesmo ser de jornalistas. Tiveram tanto trabalho, mostraram tanto talento, mas esqueceram de citar José Sarney.

Mas a festa continua
 
Ousado, o bloco da imprensa carioca?
Nada disso:
ousado mesmo foi o governador do Ceará, Cid Gomes, do PSB, que pagou R$ 600 mil por um show de Ivete Sangalo na inauguração de um hospital público de Sobral - por coincidência, base política da família Gomes.
 
Nada contra Ivete:
ela faz seu trabalho.
Tudo contra quem inaugura até casa de boneca e que gasta, na inauguração de um hospital, o suficiente para comprar novos equipamentos ou para ajudar a combater a seca que atinge o Estado.
Nada muito espantoso:
Cid Gomes é o governador que levou até a sogra para passear de jatinho por conta do Tesouro cearense.
 
Quem te viu...

Do colunista Jorge Moreno, de O Globo, sobre a lei da Moral e Bons Costumes sancionada por Sérgio Cabral, da Turma do Guardanapo, o governador que festejava sabe-se lá o que em Paris, com empresários e políticos, enquanto suas esposas faziam questão de ostentar seus caríssimos sapatos de sola vermelha:

"Cabral sancionou a ‘lei da moral e dos bons costumes’, da deputada Myrian Rios, e, depois, foi almoçar com os deputados Eduardo Cunha e Henrique Alves.
Cabral é patrono da candidatura de Cunha à liderança do PMDB".
 
...quem te vê

Um dos maiores pensadores da Humanidade, Santo Agostinho, pedia a Deus que lhe desse a castidade, "mas não ainda". O pessoal desta lei de Sérgio Cabral quer a obediência à moral e aos bons costumes, desde que não para eles.
 
O neguinho era filho da madame
 
Resumindo:
um casal rico entrou na concessionária Autokraft, da BMW, no Rio, para escolher seu novo carro. Seu filho adotado, de cinco anos, negro, ficou vendo TV no salão. Quando se aproximou dos pais, o gerente de vendas o expulsou, com frases do tipo "sai, que aqui ninguém vai te dar nada".
 
Quando viu a besteira, saiu-se com explicações ainda piores:
disse que muitas vezes crianças entravam na loja para vender coisas.
Em bom português:
que faz um neguinho em loja de grã-fino?

Mas as explicações ainda pioraram:
a loja explicou que o tal gerente "absolutamente não é racista", e que a empresa é tão legal que tem até, em cargo de chefia de Recursos Humanos, uma mulher negra (preto na área de vendas, lógico, nem pensar).

Desculpar-se, imagine!
Eles são finíssimos.
Mas há dezenas de alternativas para largar estes almofadinhas que têm nojo dos clientes.

Dinheiro não, a pele escura

A explicação da Autokraft traz uma boa sugestão (embora dê engulhos):
"Viva a diversidade!"
Viva! Há diversas lojas decentes para escolher o que comprar.
 
Não dá mão a preto
 
Racismo já é ruim; tentar explicá-lo é frequentemente pior. O comando da Polícia Militar em Campinas, SP, enviou mensagem determinando que fossem abordados "indivíduos de cor parda e negra". A explicação da PM? "Deslize de comunicação".

O porta-voz da PM paulista, capitão Eder Araújo, diz que a mensagem "não tem teor racista". Apenas, garante, "o documento foi escrito de forma descuidada e com informações descontextualizadas".

Por incrível que pareça, São Paulo tem um governador, o tucano Geraldo Alckmin. Não vai tomar providências:
acha que não houve racismo.
 
Quem foi que inventou o Brasil
 
Sai em poucos dias, comemorando os dez anos de PT na Presidência, o livro Um salto para o futuro, de Luís Dulci, sobre as proezas de Lula.

Coluna Carlos Brickmann 
25 de janeiro de 2013 

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