"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 3 de março de 2013

E SE ABRAHAM LINCOLN FOSSE EX-PRESIDENTE DO BRASIL?

 


“Muita pretensão do ex-Presidente Lula ao se comparar a Abraham Lincoln com relação à perseguição que sofre pela imprensa e por seus opositores. Na verdade, Lula, o senhor e o PT são realmente perseguidos por terem enganado o Brasil e seus eleitores, quando se apresentaram como solução dos nossos problemas. Quando o sr, finalmente chegou ao poder, seu partido, através do mensalão, provocou no País o maior esquema de corrupção já visto na História da Nação. E o que o sr fez? Simplesmente negou, dizendo não saber de nada e que queriam desestabilizar seu governo. Mas, agora, ficou provado o que o sr não viu, ou que por conveniência fechou os olhos. Lincoln foi um progressista por ideologia. Daí, para a época, foi perseguido. Já no seu caso, acredito ser por nos ter vendido laranja e estar entregando abacaxi”.
Magistral esta carta de leitor publicada sexta-feira, 1º de Março deste ano da graça de 2013, na seção “Dos Leitores” do jornal O Globo. A contundente missiva, com o título “Lula e Lincoln”, foi escrita pelo Geraldo Lisbôa. O cidadão – meu conterrâneo lá de Niterói (RJ) – é um conhecido craque em escrever textos curtos e grossos para os jornais publicarem.

O editor do jornal da família Marinho botou a mensagem do Geraldo, com destaque, no canto superior esquerdo da página 19. Sem duvidamente (como diria Odorico Paraguaçu), a publicação aproveitou o Geraldo para dar um recadinho ao melhor amigo da Rosemary – moça sobre quem ele não fala publicamente há 101 dias, embora continue sempre encontrando com ela, que vai pelo menos duas vezes por semana à sede do Instituto Lula, no Ipiranga, em São Paulo.
Intrigado com a comparação feita por Lula a Lincoln, recorri ao oráculo pós-moderno. O Google me informou, na hora, que existe um “Abraham Lincoln Institute”. Clicando no link para a página www.lincoln-institute.org, de imediato encontramos a finalidade da entidade: “Abraham Lincoln Institute, Inc. (ALI), oferece educação gratuita e permanente sobre a vida, o legado de carreira, e do presidente Abraham Lincoln. Com sede em Washington, DC, ALI oferece recursos para educadores, lideranças governamentais e comunitárias e ao público em geral. ALI Centro de Recursos Educacionais na última bolsa acadêmica de qualidade. Nós apresentamos esta bolsa de estudos através de simpósios, seminários, palestras e eventos especiais”. A ONG foi fundada em Maryland, por Paul Verduin, em 9 de junho de 1997. Trata-se de uma organização sem fins lucrativos que sobrevive com doações.
Maravilhado com o Lincoln Institute, recorri novamente ao oráculo virtual para saber sobre seu congênere brasileiro (afinal, se Lincoln já morreu e tem uma ONG, porque Lula, mais vivo que nunca, não pode ter uma parecida). Probleminha é que a página www.institutolula.org parece um pouco diferente. O tom dela é de exaltação da figura do mito que lhe empresta no nome. Via Nextel 3G, apertando o botãozinho mágico do Motorola que esquenta minha orelha, escalei a Velhinha de Taubaté para dar umas tecladas pelo site, e ela ficou maravilhada com tantas iniciativas promovidas pela entidade fundada por amigos fiéis de Lula, como Paulo Okamoto e companhia ilimitada.
A sempre crédula amiga quase teve um orgasmo quando viu a foto de Lula recebendo o título de doutor honoris causa pela Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), em Redenção, no Ceará. A idosa amente do Luiz Fernando Veríssimo ainda tirou onda com a minha cara, zunindo no meu ouvido: "Tá vendo, idiota! Nem precisa fazer faculdade, pós-graduação, mestrado, doutorado... Nem precisa estudar e ler livro... Basta fazer política... Você conquista vários títulos de Doutor Horroris Causa pelo mundo afora".
No que ela viu que eu concordei com a tese (uma cínica monografia verbal da estupidez academicista com direito à plaquinha e diploma), aproveitou a deixa para tocar no caso Lincoln: “Você e todos que fazem oposição ao Lula deviam olhar o lado bom das coisas. Se ele está se comparando a Lincoln temos o dever cívico de lhe dar toda força. Afinal, Lincoln é um exemplo a ser seguido. Lincoln tinha fama de corrupto? Não! O nome do Lincoln foi envolvido em algum escândalo que deu trabalho para os velhinhos da Suprema Corte? Não! Lincoln por acaso era pego toda hora falando mentiras? Não!”. Além disso, Lincoln era, acima de tudo, um grande patriota.
A Velhinha de Taubaté, depois de uma breve pausa dramática para seu chazinho, concluiu o raciocínio otimista: “Então, se Lula se comparou a Lincoln temos de compreender que ele só está tentando se aprimorar, para se transformar em um dos maiores estadistas da humanidade, apesar dos críticos maldosos. E digo mais: se Lula tivesse sido presidente dos EUA, o Joaquim Barbosa teria morrido na guerra da secessão, e nem viveria para dar a canetada que fará o Zé Dirceu passar uns tempinhos na cadeia, junto com a companheirada do mensalão, assim que os atrasados Toffoli e o Lewandowski entregarem as revisões de seus votos para a publicação do Acórdão da Ação Penal 470”.
A Velhinha de Taubaté, que não parava de atormentar minha orelha, veio com outra tese histórica meio esquisita: “Já pensou se o Lincoln tivesse sido Presidente do Brasil? Não teria morrido assassinado. Até hoje, estaria vivinho da Silva, fazendo campanha para a manutenção da aliança entre o PT e o PMDB. Aliás, o casamento vai durar até 2018, quando o PMDB promete lançar um candidato presidencial próprio. Pena que Lincoln não possa ser candidato em 2014. Mas vai poder apoiar aquela amiga dele, como é mesmo o nome dela?... Ah, a Rose Rousseff...”

Realmente, a Velhinha de Taubaté deve ter exagerado na dose do energético misturado na xicrinha do suspeitíssimo chá... Tirei fora a bateria do smartphone, antes que o papo esquente mais, e ela me convença a votar no Lincoln para o Senado, tirando o pirulito do Eduardo Suplicy. Ou me pedir para a missão impossível de demover o Lincoln da malvada ideia de dar um pezão no lindinho Lindberg apenas para agradar o Cabralzinho – cotado para ser vice daquela que a Velhinha chama de “Rose”...
Vida que segue... Ave atque Vale! Fiquem com Deus.
03 de março de 2013
Jorge Serrão é Jornalista, Radialista, Publicitário e Professor.

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