"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 20 de março de 2013

OS NOVOS ALEMÃES

 

Já há um tempo a Alemanha tem tido que lidar com o espinhoso problema da criação de uma nova identidade nacional. Chegou a hora dos alemães aceitarem que boa parte dos hoje cidadãos não têm mais o biotipo germânico como o conhecemos. É verdade que boa parte aceita bem, mas me parece que ainda não é um negócio oficial, entende?

Por exemplo, alemães de origem africana, oriental ou árabe. Terão primeiro seu passado migratório ressaltado no anúncio de sua nacionalidade. Seus pais chegaram na Alemanha e fizeram suas vidas. Os filhos aqui nasceram, ou chegaram pequenos. E são hoje alemães, mas com esse adendo chato: “passado migratório”.

Durante os anos 60 e 70 houve uma intensa onda migratória incentivada pelo governo alemão. Espanha, Grécia, Turquia, Ioguslávia, Portugal, Itália, Vietnã (no caso da Alemanha Oriental) mandavam como mão-de-obra os chamados “Gastmitarbeiter”(algo como trabalhadores convidados) ao país.

Cheguei a esse assunto por meio da história de três jovens jornalistas alemãs que nasceram nessa época. Elas escreveram um livro chamado “Wir neuen deutschen”(nós, os novos alemães) onde contam sobre suas vidas e suas experiências de integração na Alemanha.


Khuê Pham conta que apesar de sentir-se bastante alemã, afinal nasceu em Berlim, o único lugar onde se sente em casa é na cidade de seus pais, no Vietnã, “onde todos se parecem comigo” A polonesa Alice Bota chegou aqui com 8 anos. Durante a faculdade, seus pais exigiram que ela falasse apenas polonês com eles, porém não conseguia mais. Em contrapartida sentia-se em casa na república de estudantes poloneses. Özlem Topçu é alemã e seus pais são turcos. Já na época da escola sentia dificuldade de assimilar os tão discrepantes mundos que dividiam a escola e seu lar.

“Parece que não fazemos parte do todo” dizem. Esse “todo”é hoje na Alemanha uma massa multicultural da qual o país se orgulha. Mas na prática, essas meninas que têm o biotipo “diferente” ainda são surpreendidas com frases como “Mas você fala alemão muito bem!”

Você já pensou sentir-se expatriado no próprio país onde nasceu, cresceu, estudou e tem família? O sentimento ausente de ter raízes, de pertencer a alguma cultura, ou uma incerteza incômoda: afinal, qual minha terra natal? Falta alguma coisa ali. Sobre este sinal dos tempos escrevem as jornalistas.

 20 de março de 2013
Tamine Maklouf é jornalista e ilustradora nas horas vagas.

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