"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 11 de junho de 2013

AÉCIO NÃO PRECISA PROVAR O MESMO TALENTO DE TANCREDO. BASTA SER MELHOR DO QUE DILMA.

Aécio não precisa provar que é tão talentoso quanto o avô Tancredo. Basta deixar claro que é muito melhor que Dilma Rousseff


“Foi boa a largada de Aécio Neves na corrida pela sucessão presidencial de 2014″, constatou em 24 de maio o comentário de 1 minuto para o site de VEJA. No domingo anterior, ao assumir a presidência do PSDB, o senador mineiro não só criticara asperamente o governo federal como fizera o que todos os líderes da oposição deveriam ter feito desde sempre: apossou-se com orgulho do admirável acervo de avanços legado por Fernando Henrique Cardoso. Nos dias seguintes, também acertadamente, Aécio havia utilizado o horário do partido na TV para cutucar o nervo exposto: os sucessivos equívocos do Planalto acordaram a inflação nocauteada pelo Plano Real.
 
Neste fim de semana, a pesquisa Datafolha só confirmou o que a supergerente de araque e seus acólitos têm ouvido desde meados de abril até dos fabricantes de recordes de popularidade: Dilma não está bem no retrato. E pode ficar muito pior se Aécio Neves, que começou a ganhar musculatura, continuar a percorrer o caminho que leva à oposição real, muito maior que os 14% que lhe atribuiu o Datafolha. Para completar a travessia, não pode esquecer que milhões de brasileiros só contemplarão com seu voto um candidato que tenha vergonha na cara, não tenha bandidos de estimação e esteja disposto a combater sem clemência a corrupção impune.
 
O neto de Tancredo Neves gosta de lembrar uma das tantas lições que ouviu do avô: “Escolher o adversário costuma ser mais importante que a escolha dos aliados”. Graças às trapaças da sorte, Aécio foi presenteado com a adversária que todo candidato pede a Deus. Dispensado de agir em território inimigo, deve concentrar-se na expansão da aliança que comandará sem esquecer em nenhum momento que a decomposição moral do país já foi longe demais. Lula e seus devotos acham que, numa eleição, o único pecado é perder. Candidatos com algum apreço pela ética recusam essa lei da selva.
 
“Um acordo político tem de ser feito em torno de princípios”, também ensinou Tancredo Neves. Foi para apressar a transição do regime autoritário para a democracia que ele consumou costuras políticas de alto risco e celebrou acordos improváveis. A eleição não dependia do voto popular, mas dos integrantes do colégio eleitoral. Como o presidente agora é escolhido nas urnas, Aécio está dispensado de provar que é um articulador tão talentoso quanto o avô. Basta convencer o país de que é muito melhor que a presidente em busca da reeleição.
 
Se insistir em flertar com o perigo, como andou fazendo nos últimos dias, pode acabar cruzando a difusa fronteira que separa a audácia do vale-tudo „Ÿ e ficará parecido com Lula. Nessa hipótese, será mais um a realizar a façanha que deixaria Tancredo pálido de espanto: ser derrotado por uma Dilma Rousseff.

11 de junho de 2013
Augusto Nunes - Veja

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