"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 11 de junho de 2013

POR UMA AGÊNCIA INTERNACIONAL DE CLASSIFICAÇÃO DE DEMOCRACIA

 

1

A notícia de que a Standard & Poor colocou a nota de risco do Brasil em perspectiva negativa no final da semana passada apontando os números falseados da inflação e do déficit nas contas públicas como justificativa lembrou-me a ideia que sempre me passa pela cabeça nessas ocasiões.

Reparem como isso ajudou a mudar o discurso e o comportamento do governo que foi obrigado a, pelo menos formalmente, reforçar o papel do Banco Central e conter o voluntarismo de dona Dilma.
É pena que só quem tem dinheiro no mundo continue se prevenindo dos comportamentos que possam vir a ameaçá-los e que só esse tipo de denuncia (que é do que se trata) renda tanta publicidade tão bem sincronizada por toda a imprensa nacional e internacional.

Faz muito mais falta a este planeta uma Agência Internacional de Classificação de Democracia.

Arsenal

Pense bem.
Até os mais notórios bandidos do mundo de hoje tratam de fingir-se de democráticos ou de disfarçar as violências institucionais que perpetram com algum tipo de verniz democrático. Tudo isso ficou mais fácil com as modernas comunicações e a internet que tende a empurrar incoercivelmente o processo político para expedientes plebiscitários.

O lado bom é que isso é uma prova de que a democracia hoje é um valor universal e uma exigência de todos os povos. O que a maioria desses povos não sabe é definir com mais precisão o que é ou o que não é um comportamento ou uma instituição democráticos.

3

Tendo partido de diferentes graus de servidão e avançado alguma coisa na direção de aberturas democratizantes, não chega a ficar claro para eles a que foi, exatamente, que chegaram, e o que falta conquistar para que os regimes sob os quais vivem passem a merecer de fato o nome de democracia.

A maior dificuldade dos aspirantes a democracias é, enfim, o desconhecimento do que seja ela. E como há uma tendência natural em quem nunca teve nada de ficar excessivamente agradecido por muito pouco, esses neófitos tornam-se vítimas fáceis para os lobos populistas e para as feras neo-autoritárias.

8

Sem ter uma ideia clara sobre a que têm direito de aspirar, podem levar séculos se tiverem de descobrir isso sozinhos em ambientes contaminados por sólidas paredes de ignorância e censura à informação, seja ela a diretamente imposta pelo governante autoritário, seja a censura granmscianamente infiltrada nos meios de difusão das ideias e da cultura, a escola em especial, de modo a impor subliminarmente um pensamento unitário essencialmente antidemocrático.
É este, por exemplo, o caso do Brasil.

Se tais avaliações tivessem o mesmo destaque planetário que recebem os alertas sobre expedientes de governantes que ameaçam os investimentos estrangeiros nos países avaliados pelas agências de risco de hoje e rendessem o mesmo tipo de sanção econômica (dinheiro mais caro, investimentos minguantes, etc.), o avanço da democracia no mundo mudaria de velocidade ao concentrar todas as atenções naquilo que realmente interessa.

6

O Brasil, por exemplo, renderia manchetes como: “Brasil é rebaixado pela ausência do instituto básico do um homem-um voto”, ou “Foros especiais configuram desigualdade perante a lei e desmascaram democracia brasileira”, ou ainda, “Impossibilidade de ligar representante a representados põe Brasil fora do clube das democracias”. A lista seria enorme…

E se isso nos obrigasse a discutir essas questões essenciais em vez das quimeras da governabilidade e das nuances ideológicas dos atores da comédia brasiliense  que tanto apaixonam os jornalistas da capital da República, certamente avançaríamos muito.

Todos teriam a ganhar, aliás, mesmo porque, afinal de contas, excluídas as novidades inventadas pelos tubarões da ponta tecnicamente mais avançada do capitalismo como as que, paridas em Wall Street, enganaram as agências de risco e mergulharam o mundo numa crise, o que essas agências medem são exatamente as violências contra a democracia que permitem a governantes de países institucionalmente imaturos por a economia a serviço dos seus delírios de poder em vez de colocá-la a serviço do bem público, ameaçando assim também os investimentos dos estrangeiros que se arriscaram a apostar neles. Caberia portanto, denunciar o que propicia tais abusos, antes de esperar para gritar só depois que eles acontecerem.

7

11 de junho de 2013
vespeiro

Nenhum comentário:

Postar um comentário