"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 18 de junho de 2013

EM NOME DO MAL


 
The Power of Christ compels you!” Frase que, pelo menos em 1973 e na ficção, apresentava ao mundo um poder cuja origem se conhecia
 
A teoria freudiana é muito rigorosa naquilo que se refere aos objetivos do poder. Sustenta de uma maneira ferrenha que as pulsões básicas responsáveis pela contínua busca de autoridade sobre os demais são sempre de natureza violenta ou sexual.
Duvido muito que Freud, se estivesse vivo, mantivesse esse ponto de vista. Temos assistido a  homens e mulheres,ligados a vida pública no Brasil, vincularem-se  ao poder de tal modo que não é possível reduzir sua ambição  a estes dois elementos primordiais.
Sabia-se muito bem, mesmo antes do advento da psicanálise, que os impulsos ligados ao sexo e a violência são considerados como instintos  vitais. Eles tem uma função inerente a manutenção da espécie e não podem ser entendidos como primariamente patológicos em hipótese alguma.
As teorias psicológicas a respeito do poder falham, ao meu ver, em relacioná-lo com qualquer aspecto do ordenamento fisiológico da nossa raça.  Homens e mulheres que já ganharam muito dinheiro, que já se casaram varias vezes, e que ainda poderiam ter uma vida sexual plena buscam o poder por motivos que não podem ser explicados de maneira tão exata. 
Num sentido muito particular, ocupar cargos públicos pode ser a solução para preenchimento daquilo que um amigo psicanalista denominou de ansiedade do vazio – um sentimento de autoestima tão baixo, uma vida tão sem significado no amor e no trabalho que necessita do poder como o corpo precisa do oxigênio para sobreviver.
 
Seria exagero afirmar que todo político se comporta assim? O meio acadêmico é pródigo em trabalhos e teses sobre a personalidade das pessoas que governam o mundo. Narcisismo, personalidade anti social, esquizofrenia, tanto faz..todos os diagnósticos se apresentam relacionados a casos individuais. Não conheço nenhum terapeuta que tenha sustentado que a busca frenética pelo poder fosse, em  si mesma, uma patologia própria com características definidas.
Talvez o que falte seja mais observação. Talvez o que não exista ainda seja suficiente sensibilidade das  pessoas para entenderem como gente assim pode formar,  no Brasil de hoje, um grupo de doentes com características próprias como os  hipertensos, alcoólatras, diabéticos...
Resolvidos esses aspectos médicos e que dizem respeito propriamente a patologia do poder, restaria ainda estudar suas implicações do ponto de vista social e político-filosófico. Nesse sentido, não seria fácil encontrar um Deus, ou um conceito de Nação capaz de fomentar a ânsia pelo poder. Certo é, que para mascarar o interesse próprio, aquele que hoje dispõem do poder no Brasil usa e abusa do conceito de democracia e da noção de  bem estar-social para exercê-lo de formas cada vez mais perversas. 
Num mecanismo de defesa chamado formação reativa o político rouba, frauda, mente, desvia dinheiro público, e forma quadrilhas sempre em nome de algo maior..sempre defendendo essa entidade abstrata chamada povo, povo esse que só ele conhece quando elabora sua auto absolvição perante uma consciência que eventualmente lhe atormente.
Sem buscar mais sexo, sem precisar mais de dinheiro, sem precisar matar ninguém para sobreviver o gestor público permanece no poder em nome de si mesmo. Ele exerce um poder sem cara  e sem objetivo claros que muda de discurso ideológico a todo momento, sempre numa apelação irracional perante o inconsciente coletivo da maior nação católica do mundo. Uma nação que assiste o surgimento de um poder cuja base é uma autoridade anônima criada por consensos de telenovelas, movimentos sociais e chamadas no Facebook, num delírio coletivo onde não existe mais lugar para o recolhimento e para caridade que deveria ser feita em silêncio e sempre em nome de alguém; nunca em nome de um povo...
Um poder exercido aparentemente sem nome e, no fundo no fundo... exercido em nome do mal.

18 de julho de 2013
Milton Pires é Médico.

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