"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 19 de junho de 2013

"O RONNIE VON DAS MASSAS"

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Biografia de José Dirceu revela fatos inéditos, alguns de extrema gravidade (Reprodução/Internet)

Resenha: 'Dirceu'

Daniel, Hoffmann, Carlos Henrique, Pedro Caroço. Cubano, argentino, brasileiro. Quem foi ou é José Dirceu?

 
Não é por acaso que lançado na sexta-feira, dia 7, já se esgotaram os 15 mil exemplares da primeira edição de Dirceu, a biografia de José Dirceu de Oliveira e Silva, o ex-todo-poderoso ministro-chefe da Casa Civil, escrita por Otávio Cabral, editor de Veja. A Editora Record já começou a preparar uma nova tiragem de 10 mil exemplares.
Otávio Cabral pesquisou mais de 15 mil páginas de documentos, quase todos inéditos, em nove arquivos públicos, além da consulta a nove jornais, oito revistas nacionais, quatro publicações estrangeiras, livros e sites.
Cabral entrevistou 63 pessoas, anônimas e públicas, para contar a trajetória de José Dirceu, mineiro de Passa Quatro, cidade de 11 mil habitantes no interior de Minas Gerais, que dizia à mãe a frase que repetiria ao longo da vida: ‘Um dia serei presidente da República."
Além de ser a biografia mais completa e surpreendente de José Dirceu, o livro com 363 páginas, revela fatos inéditos, alguns de extrema gravidade, como a ordem de José Dirceu de sequestrar e manter em cárcere privado, com as mãos algemadas presas no cano de uma pia e submetido a "inquéritos" intermitentes, João Parisi, integrante do Comando de Caça aos Comunistas (CCC).
Em outra passagem, o autor menciona um fato, também inédito e importante, do depoimento de uma testemunha que aponta a participação de Dirceu no assassinato de um sargento da Polícia Militar em São Paulo, em 1972. O crime ocorreu quando voltou do exílio em Cuba, junto com integrantes do Molipo, grupo terrorista que mais tarde seria dizimado pela repressão.
 
Trajetória: identidade tripla

Líder estudantil em 1968, Dirceu foi o protagonista do histórico congresso da UNE em Ibiúna. Capturado, foi um dos presos trocados pelo embaixador americano.

Exilou-se em Cuba, onde tornou-se um protegido de Fidel Castro que o escolheu para comandar, já com o novo rosto, um foco de guerrilha no Brasil. Com o fracasso do movimento, José Dirceu iniciou um longo período de clandestinidade, só interrompido com a anistia em 1979.

Nesse período, com o nome de Carlos Henrique Gouveia de Melo, levou uma vida dupla de um tranquilo comerciante do Paraná, escondendo da mulher, Clara Becker, sua identidade de fugitivo do regime militar. Mas, na verdade, Dirceu levava uma vida de identidade tripla, porque tinha outra mulher em São Paulo, para onde ia com frequência a pretexto de comprar roupas para sua loja, a Magazine do Homem.

Depois da anistia, conheceu o sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva, fundou o Partido dos Trabalhadores (PT) e tornou-se um dos mais importantes articuladores do petismo. Em 2003, quase concretizou seu sonho de ser presidente da República, ao ser nomeado, com plenos poderes, ministro-chefe da Casa Civil do recém-eleito presidente Lula.

Porém, a relação de 33 anos entre Dirceu e Lula sempre foi simbiótica e tensa, sem que jamais houvesse um clima de confiança entre os dois e, sim, segredos políticos e pessoais mútuos.
A relação ficou ainda mais desgastada, quando Dirceu foi confrontado com pedidos de investigação sobre sua vida política por parte do PT.
Dirceu procurou Lula e exigiu, para se manter em silêncio sobre o financiamento da campanha presidencial, que ele articulasse sua candidatura à presidência do PT. Lula aceitou.

O envolvimento com as mulheres do bonitão “Ronnie Von das massas”, desde a história da Maçã Dourada, a bela agente do Dops infiltrada, que quase terminou sua carreira de líder estudantil, às alegres “meninas” de Jeany Corner, a cafetina da República, os delírios de grandeza, a avidez de poder e a arrogância com a imprensa, que não se curvava à sua autoridade imperial, culminaram no escândalo do mensalão.

José Dirceu, por 293 votos contra 192, teve seu mandato de deputado federal cassado no processo do mensalão, o julgamento da história, em dezembro de 2005, quando foi condenado a dez anos e dez meses de prisão.

O livro apaixonante de Otávio Cabral prende o leitor, a cada página, à história de um anti-herói, sem ideologia ou princípios morais e éticos e, que, aos 67 anos “jamais chegou a lugar nenhum”, nem chegará.

19 de junho de 2013
Marisa Motta

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