"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 10 de julho de 2013

IMPROVÁVEL?


 
Imaginemos uma cidade situada no interior de um desses estados tipo capitania hereditária, com aproximadamente 10000 habitantes. A população não conta com rede de esgoto e a maioria das ruas, sem capeamento, alaga quando chove, impedindo a locomoção das pessoas. O Posto de Saúde está há mais de 10 anos desativado, completamente sucateado, sem condições operacionais mínimas de funcionamento.
 O último médico visto por lá, atraído por anúncio dando conta que a Prefeitura pagaria um salário de fazer inveja a seus colegas da capital, verificou rapidamente, além da impossibilidade de exercer uma medicina de nível básico, o tamanho do engodo da proposta e sentiu que ia rapidamente ser instrumentalizado pelas forças políticas que dominavam há muito o local. Permaneceu por pouco mais de um mês.
 
Hoje, quando surge uma emergência, o paciente tem que se deslocar, por meios próprios, pois ambulância, nem pensar, ao longo de mais de 150 km de estrada pontilhada de crateras, até a cidade polo.
 
Esticando um pouco mais o esforço imaginativo, suponhamos que daqui a uns três anos, PT ainda no poder, o que não é improvável, a cidadezinha, ainda em estado deplorável de saneamento básico, veja, num belo dia, surgir um médico falando um idioma que os habitantes não entendem, apresentando-se ao prefeito, que também não entende sua língua.
 
Mesmo assim, o nosso esculápio resolve passar um período investigativo na cidade para a qual fora enviado como parte de um programa do governo brasileiro, destinado a suprir a carência de médicos no interior.
 
Ao verificar a absoluta falta de estrutura para possibilitar a mais primária das medicinas, volta à capital e se apresenta, indignado, ao consulado de seu país para protestar contra a falsidade das informações que o atraíram.
 
Forma-se uma crise diplomática  que, turbinada pela mídia, assume proporções inesperadas, dando muito trabalho aos representantes do Itamarati para o apaziguamento.
 
A base da argumentação ao país amigo reside, naturalmente, no inevitável boicote da "zelite"( será ele o presidente?), em relação ao processo de socialização da medicina no país. 
 
Estorinha improvável?
 
Aguardemos, apavorados com a possibilidade de permanência no poder do PT e "dele" na presidência.
 
10 de julho de 2013
Paulo Roberto Gotaç é Capitão-de-mar-e-Guerra reformado.

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