"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 16 de julho de 2013

LULA "ESCREVE" ARTIGO NO NYT E "ESQUECE" PROTESTOS NA RUA CONTRA CORRUPÇÃO


Após protestos, Lula defende profunda renovação do PT.  Em artigo publicado pelo ‘NYT’, ex-presidente diz que manifestações ocorreram por causa do sucesso de seu governo; ‘jovens querem mais’

Lula almoçou nesta terça-feira com os escritores Fernando Morais e Lira Neto (com ele na foto) Foto: Instituto Lula
Lula almoçou nesta terça-feira com os escritores Fernando Morais e Lira Neto (com ele na foto) Instituto Lula
 
Em artigo distribuído pelo jornal americano “The New York Times” e publicado na sua versão on-line nesta terça-feira, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva explicou, segundo o seu ponto de vista, os motivos pelos quais milhões de brasileiros foram às ruas no mês junho. Para o petista, a onda de protestos só ocorreu por causa do “sucesso econômico, político e social” de seu governo. A análise sustenta que os jovens “querem mais”, pois viveram um momento de bonança econômica e pleno emprego.
 
Em nenhum momento Lula cita as palavras de ordem contra a corrupção ou contra o dinheiro público gasto em estádios para a Copa do Mundo. Para Lula, os jovens querem participar da política. No texto, ele apoia a ideia de um plebiscito para a reforma política apresentada pela presidente Dilma Rousseff e defende uma reformulação do próprio PT, com a abertura de canais de comunicação para a juventude.

Mesmo o Partidos dos Trabalhadores, que eu ajudei a fundar, e que contribuiu muito para modernizar e democratizar a política no Brasil, precisa de uma profunda renovação. É preciso recuperar suas ligações diárias com os movimentos sociais e oferecer novas soluções para novos problemas, e fazer as duas coisas sem tratar os jovens de forma paternalista”, diz ele, em artigo escrito em inglês.
 
 
“Muitos especialistas atribuem os recentes protestos a uma rejeição da política. Eu penso ser justamente o contrário (...) Eu só posso falar com autoridade sobre o meu país, o Brasil, onde eu acho que as manifestações são em grande parte o resultado do sucesso social, econômico e político. Na última década, o Brasil dobrou o número de estudantes universitários, muitos de origem pobre. Nós reduzimos a pobreza e a desigualdade. Estas são conquistas importantes. É natural que o jovem, especialmente aquele que ganhou mais coisas do que seus pais nunca tiveram, deve desejar mais”, diz Lula logo no início do artigo. No fim do mês passado, Lula adotou o mesmo discurso e afirmou, na Etiópia, que “feliz é o povo que vai às ruas querendo mais”.
 
O ex-presidente afirma que a maioria das pessoas que estavam nas ruas não presenciou momentos como a hiperinflação ou a repressão da ditadura militar. Eles também “lembram muito pouco sobre os anos 1990, quando a estagnação e o desemprego afetaram nosso país”, diz Lula. O petista diz que, agora, os brasileiros querem transporte público com mais qualidade, para que “a vida nas grandes cidades seja menos difícil”.
 
Lula diz que é necessária uma reforma política.
 
“Eles (os jovens) exigem instituições políticas mais limpas e transparentes, sem as distorções políticas e eleitorais (...) A legitimidade dessas demandas não pode ser negada, mesmo que seja impossível contemplá-las rapidamente”.
 
Lula ressalta ainda que as manifestações só podem ser feitas em uma democracia. Regime este que possibilita a eleição, para presidente, de “um índio”, como na Bolívia (Evo Morales), ou de um “negro”, como no Estados Unidos (Barack Obama), ou de um “metalúrgico”, como no Brasil (ele próprio).

Lula defende uma participação mais direta do cidadão nas questões políticas do país.
 
“As pessoas não querem apenas votar de quatro em quatro anos. Elas querem interagir com os governos locais e nacionais, e tomar parte das decisões de políticas públicas, oferecendo opiniões e decisões que os afetem todos os dias”.
 
O ex-presidente diz que a vontade dos jovens impõe “um grande desafio aos líderes políticos”. Segundo ele, é preciso construir meios mais eficientes de participação, seja nas redes sociais, nos locais de trabalho, nas universidades e ou em grupos de comunidades locais.
 
“É dito com frequência, e com razão, que enquanto a sociedade vive na era digital, a política vive na era analógica”, diz Lula.
 
Ele ainda elogia Dilma:
 
“A outra boa notícia (além da participação dos jovens na política) é que a presidente Dilma Rousseff propôs um plebiscito para realizar a tão necessária reforma política. Ela também propôs um pacto para a educação, saúde e transporte público (...)”.
 
Em contraste com a declaração de Lula com os rumos do PT, ontem, o presidente do partido, Rui Falcão, em entrevista ao programa da TV Cultura, Roda Viva, disse que não está preocupado com a baixa participação de petistas nas ruas.
 
— O PT nunca saiu das ruas. Com o nível de emprego hoje, as pessoas estão trabalhando. Dificilmente teremos movimentos de massa semelhantes à década de 70. Houve muitos avanços nesses período e é este o legado que vamos estar afirmando nas eleições de 2014 — disse.

16 de julho de 2013
O Globo

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