"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 16 de agosto de 2013

OS PROTESTOS NO BRASIL, OS REVOLUCIONÁRIOS E O QUE FAZER PARA NOS PREVENIRMOS

                     
          Artigos - Cultura         
Quando os protestos explodiram no Brasil, eu estava na santa paz de uma pequena vila no interior dos Estados Unidos. Na época, escrevi o seguinte comentário:
"(...) acompanho horrorizado a forma, a dimensão e o método dos protestos no Brasil. O cheiro de enxofre revolucionário e o uso da violência como instrumento de manifestação só despertam minha repulsa e indignação - e me fazem acreditar na existência de uma orientação política muito bem definida e devidamente ocultada". 


Alguns colegas escreveram dizendo que havia muitas pessoas de bem nas manifestações, alguns com reivindicações legítimas, o que, supostamente, legitimaria o ato em si, mesmo com os "excessos" cometidos pelos baderneiros. Como estava longe, e as reportagens podem dar uma ideia equivocada sobre o que estava acontecendo, preferi acompanhar silenciosamente os protestos.
 
Mas, depois de uma semana desde a minha volta ao Brasil, e de ouvir relatos de conhecidos que foram às ruas e ler o que tem sido escrito desde então, lamento dizer que minhas piores impressões iniciais se confirmaram. Esta é uma das vantagens de conhecer um pouco de história, do pensamento político, das ideologias e do socialismo/comunismo.
 
A partir desse conhecimento você tem os instrumentos necessários para reconhecer o pensamento e a ação revolucionários, o comportamento das multidões e entender como as pessoas são usadas por grupos ideológicos sem nem mesmo saberem como e por que foram instrumentalizadas. Nesses casos, é sempre prudente, para quem as têm, controlar a costela jacobina.
 
Ainda há aqueles que, investidos de certa áurea intelectual, legitimam a ignorância e a estupidez, como mostra Demétrio Magnoli, no Estadão de hoje, ao falar sobre os black blocs nativos. E acho até que ele poderia ter recorrido a alguns dentre os vários exemplos ocorridos aqui mesmo no Brasil, seja na ação de anarquistas e comunistas no início do século XX ou na atuação das esquerdas a partir da segunda metade do mesmo século. Como estão mais próximos e fazem parte da nossa história, servem não apenas como informação e objeto de estudo, mas como material para criação de mecanismos de defesa cultural.Os protestos continuam e agora está mais clara não só a orientação política, mas a vocação para a violência e o equívoco de pedir mais estado ou governo, poder este que será usado de forma mais ampla pelos partidos políticos e grupos ideológicos que estão mobilizando, insuflando e patrocinando as manifestações.

Para não cair no discurso desses revolucionários e nem ser convertido em inocente ou idiota útil, é preciso saber com quem se está lidando. No Diário do Comércio, Olavo de Carvalho sugeriu uma bibliografia importante para que se possa entender e "falar com proriedade sobre o movimento comunista":
(1) Os clássicos do marxismo: Marx, Engels, Lênin, Stálin, Mao Dzedong.
(2) Os filósofos marxistas mais importantes: Lukács, Korsch, Gramsci, Adorno, Horkheimer, Marcuse, Lefebvre, Althusser.
(3) Main Currents of Marxism, de Leszek Kolakowski.
(4) Alguns bons livros de história e sociologia do movimento revolucionário em geral, como Fire in the Minds of Men, de James H. Billington, The Pursuit of the Millenium, de Norman Cohn, The New Science of Politics, de Eric Voegelin.
(5) Bons livros sobre a história dos regimes comunistas, escritos desde um ponto de vista não-apologético.
(6) Livros dos críticos mais célebres do marxismo, como Eugen von Böhm-Bawerk, Ludwig von Mises, Raymond Aron, Roger Scruton, Nicolai Berdiaev e tantos outros.
(7) Livros sobre estratégia e tática da tomada do poder pelos comunistas, sobre a atividade subterrânea do movimento comunista no Ocidente e principalmente sobre as "medidas ativas" (desinformação, agentes de influência), como os de Anatolyi Golitsyn, Christopher Andrew, John Earl Haynes, Ladislaw Bittman, Diana West.
(8) Depoimentos, no maior número possível, de ex-agentes ou militantes comunistas que contam a sua experiência a serviço do movimento ou de governos comunistas, como Arthur Koestler, Ian Valtin, Ion Mihai Pacepa, Whittaker Chambers, David Horowitz.
(9) Depoimentos de alto valor sobre a condição humana nas sociedades socialistas, como os de Guillermo Cabrera Infante, Vladimir Bukovski, Nadiejda Mandelstam, Alexander Soljenítsin, Richard Wurmbrand.
Além desses, recomendo os seguintes livros que considero úteis para compreender o assunto, alguns dos quais já indicados pelo próprio Olavo nos textos e aulas:
Utopia, The Perennial Heresy, de Thomas Molnar.
Political Messianism, de J. L. Talmon.
O ópio dos intelectuais, de Raymond Aron.
The Politics of Imperfection, de Anthony Quinton.
The True Believer, de Eric Hoffer.
Political Pilgrims, The Many Faces of SocialismPolitical Will and Personal Belief: The Decline and Fall of Soviet CommunismDecline and Discontent: Communism and the West Today e The End of Commitment, de Paul Hollander.
(Ampliarei essa lista posteriormente.)
 
Essas leituras e estudo permitem criar condições intelectuais para perceber e avaliar o grau de socialismo e/ou comunismo numa determinada sociedade (no Brasil ou em outro país), dos quais o marxismo, por exemplo, é apenas uma das suas muitas manifestações ideológicas.
Engana-se quem acha que Marx e os marxistas é o problema principal e que é possível vencê-los com um mero debate de ideias, que exige, necessariamente, que haja ideias em ambos os lados.
 
Também é possível compreender, a partir dessas leituras, por quais razões partidos como o PT e os demais grupos e partidos de esquerda e pseudo-direita no Brasil não são elementos políticos inofensivos e saudavelmente necessários à vida política.
O desafio, meus caros, é muito maior do que geralmente se imagina.

16 de agosto de 2013
Bruno Garschagen
 é cientista político pelo Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica de Lisboa e University of Oxford, e podcaster do Instituto Ludwig von Mises.

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