"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 4 de fevereiro de 2012

AFINAL, PARA QUE SERVEM AS UNIVERSIDADES?

Livro de professor da Universidade de Cambridge discute papel das instituições de educação superior na sociedade.

As universidades estão numa posição paradoxal. Como explica Stefan Collini em What Are Universities For?, um livro eloquente e imparcial, essas antigas instituições nunca foram tão numerosas ou importantes. Elas recebem mais dinheiro público do que em qualquer outro momento da história, e são celebradas como os motores do crescimento econômico e do avanço tecnológico. Ainda assim, elas frequentemente assumem posições defensivas e preocupadas, sem um senso definido de propósito ou direção.

Collini, professor de literatura inglesa e história intelectual na Universidade de Cambridge, está ansioso para trazer de volta a confiança das universidades. Segundo ele, elas “são um lar para as tentativas de expandir e aprofundar a compreensão humana de maneiras que são, ao mesmo tempo, disciplinadas e ilimitadas”. São os efeitos colaterais dessa atividade que viraram alvo dos debates públicos: o impacto na capacidade de compreensão dos alunos, ou no desenvolvimento nacional de novas tecnologias. Mas esses não são os principais propósitos das universidades.

Ao apresentar sua visão, Collini rejeita a definição de Clark Kerr, presidente da Universidade da Califórnia, que descreve as universidades como “uma série de empresários acadêmicos unidos por um rancor mútuo a respeitos das vagas de estacionamento”. Ao invés disso, ele se apoia na insistência do Cardeal Newman de que uma educação liberal não está ligada ao que alunos aprendem ou às habilidades que eles desenvolvem, mas “à perspectiva que eles têm de seu conhecimento num amplo mapa do conhecimento humano”. Mas isto está bastante distante dos mecanismos que o governo usa atualmente (e o foco de Collini é o governo britânico em Westminster) para definir metas para os gastos de dinheiro público e para transformar estudantes universitários em “consumidores” exigentes de educação secundária.

A segunda metade do livro é uma decepcionante e repetitiva coleção de ataques previamente publicados contra a política do governo britânico. Collini ataca com precisão vários conceitos, como “impacto” como base para a distribuição de fundos de pesquisa ou a insistência para que as universidades se transformem em ferramentas para impulsionar o PIB. “A sociedade não educa a próxima geração para que eles contribuam para sua economia”, insiste ele. Porém, no fim das contas as universidades têm que ser sustentadas, e esse financiamento não pode ser justificado pelas palavras de Newman. Os governos devem justificá-lo para aqueles que estão pagando a conta, e eles devem desempenhar algum papel nas decisões, sejam elas a de pagar por pesquisas sobre poesia medieval ou distrofia muscular. Além disso, quanto mais as famílias carregarem diretamente os custos da educação de seus jovens, mais eles irão querer das universidades, além de um simples local no mapa da compreensão humana.

As universidades sempre sentirão a tensão entre a pureza intelectual que Collini exige, e o complicado negócio de selecionar e preparar a classe média do futuro. A capacidade de reconciliar esses dois papéis é a marca das grandes universidades. Na verdade, a tensão criada por esses papéis conflitantes é o que ajuda a maioria dos acadêmicos a manter alguma independência de pensamento e vigor intelectual. O governo pode reclamar da produção e de estudantes que somente se preocupam com o que vão lucrar em seu tempo de vida, mas aqueles que reclamam precisam de uma boa dose do Cardeal Newman para fazer bem o seu trabalho.

04/02/2012
Fontes:The Economist - Troubled halls

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