"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

FALTA DO QUE FAZER

MPF pede retirada de circulação do Houaiss pela definição de “cigano”
Sem mais o que fazer de útil, o Ministério Público Federal (MPF) em Minas Gerais ajuizou ação civil pública pedindo a retirada de circulação do Dicionário Houaiss, por considerar que o livro contém “expressões pejorativas e preconceituosas” sobre ciganos.


Duas das oito definições da palavra citadas no dicionário se referem ao povo como “aquele que trapaceia, velhaco, burlador” e “apegado a dinheiro, agiota e sovina”.
As expressões são mencionadas como as definições “depreciativas” do termo.
O processo foi motivado por uma representação de um cidadão de origem cigana em 2009, ocasião em que denunciou discriminação e preconceito contra sua etnia.

“Ainda que se deixe expresso que é uma linguagem pejorativa, ou, ainda, que se trata de acepções carregadas de preconceito ou xenofobia, fica claro o caráter discriminatório assumido pela publicação”, escreveu o procurador da República em Uberlândia (MG), Cléber Eustáquio Neves, autor da ação.

Por entender que a definição agride “de maneira absolutamente injustificável o patrimônio moral da nação cigana”, o MPF pediu a condenação da editora a pagamento de indenização por dano moral coletivo de R$ 200 mil, além da retirada imediata de circulação das edições do Houaiss que contêm as definições pejorativas do verbete. Para o MPF, a significação viola o artigo 20 da Lei 7.716/89, que tipifica o crime de racismo.

A bem da verdade, nas edições que eu tenho, é o Aurélio em livro que apresenta tais definições pejorativas, mas o Houaiss Eletrônico não as contém. Ele diz que cigano é:

adjetivo

1: relativo ao ou próprio do povo cigano; zíngaro
Exs.: música c., vida c., esperteza c.
adjetivo e substantivo masculino
2: relativo a ou indivíduo dos ciganos, povo itinerante que emigrou do Norte da Índia para o oeste (antiga Pérsia, Egito), de onde se espalhou pelos países do Ocidente; calom, zíngaro
3: Derivação: por extensão de sentido.
que ou aquele que tem vida incerta e errante; boêmio
Exs.: família c.,viver como c.
4: Derivação: por analogia.
vendedor ambulante de quinquilharias; mascate
5: Uso: pejorativo.
que ou aquele que faz barganha, que é esperto ao negociar
6: que ou o que serve de guia ao rebanho (diz-se de carneiro)
7: Rubrica: linguística.
m.q. romani

Mas o que fazer então com o judeu usurário?
substantivo masculino
8: Uso informal, pejorativo.
pessoa usurária.

E com o mulato sonso de quatro patas?
substantivo masculino
3: Uso informal.
indivíduo cheio de manhas; inzoneiro, sonso
Etimologia: esp. mulato ‘macho jovem’, por comparação da geração híbrida do mulato com a do mulo, de mulo ‘macho’

E com o capadócio burro e trapaceiro?
adjetivo e substantivo masculino
1: relativo à Capadócia, província central da Ásia Menor, ou o que é seu natural ou habitante; capádoce
2: Uso: pejorativo.
que ou aquele que é pouco inteligente; ignorante; burro
3: Regionalismo: Brasil.
que ou quem é impostor; trapaceiro, charlatão
4: Regionalismo: Brasil. Uso: pejorativo.
que ou quem tenta enganar os outros dando-se ares importantes; cabotino, espertalhão
5: Regionalismo: Brasil. Uso: pejorativo.
que ou o que tem modos de canalha

Isso me fez lembrar a ridícula “Cartilha do Politicamente Correto” que Nilmário Miranda tentou emplacar e que, entre outras pérolas dizia que devíamos evitar a expressão barbeiro porque “o uso da expressão, no sentido de motorista inábil, obviamente é ofensiva ao profissional especializado em cortar cabelo e aparar barba”.

Na certa ele iria adorar a expressão criada pelo Batista, meu barbeiro há 30 anos, que se define como um “cirurgião capilar”.

A verdade é que, não satisfeitos com a esculhambação e o empobrecimento da língua falada, os novos detentores do poder também querem detonar a escrita.
Pobre Brasil.


28 de fevereiro de 2012
Por Ricardo Froes

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