"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 21 de março de 2012

DILMA QUER DESPERTAR O "ESPÍRITO ANIMAL" DOS EMPRESÁRIOS, NO SENTIDO HUMANO DO TERMO, É CLARO!

Soberana que acelerar a aceleração desacelerada do crescimento…

Vejam bem…
O PAC, como sabe qualquer pessoa razoável, nunca existiu. Trata-se de uma etiqueta, de uma marca-fantasia, que se colocou num conjunto de obras. E se chama àquilo “Programa de Aceleração do Crescimento”. Quando a economia mundial ia bem, antes da quebradeira, acelerava; no segundo mergulho da crise, que pegou a Europa em cheio, aí o mundo sentiu o baque. E o acelerado Brasil cresceu 2,7% em 2011, menos que a maioria dos países da América Latina e do que a Alemanha em crise: 3%. De sorte que a “aceleração do crescimento”, que parecia obra da engenharia econômica nativa, depende dos humores da economia mundial. Os juros continuaram nos cornos da lua, sim, senhores, mas “estímulo”, à moda como se dá por aqui — com juros subsidiados do BNDES e desonerações tributárias — não faltou.

O PAC foi perdendo a força de marca-fantasia. Então é preciso criar alguma outra coisa, mover os tanques, dar a impressão de que algo grande pode acontecer. Que tal uma espécie de “PAC do PAC”? Vamos acelerar o Programa de Aceleração do Crescimento!!! Leiam o que informa Valdo Cruz e Flávia Foreque, na Folha. Volto em seguida:
*
Numa tentativa de mudar o foco do governo para uma agenda positiva, a presidente Dilma Rousseff faz amanhã uma reunião com um grupo de 27 grandes empresários e banqueiros do país para cobrar mais investimentos no setor produtivo. A reunião foi convocada num momento em que o Palácio do Planalto enfrenta uma fase de turbulência política em suas relações com o Congresso e o principal partido da base aliada, o PMDB. Segundo assessores, Dilma quer mostrar que a crise política não imobilizou sua administração e que sua prioridade continua ser fazer a economia crescer pelo menos 4% em 2012, depois de um crescimento de apenas 2,7% no primeiro ano de sua gestão. Dilma vai pedir aos participantes do encontro que invistam mais para acelerar o ritmo de crescimento.

Segundo o IBGE, os investimentos ficaram praticamente estagnados no segundo semestre do ano passado.

A intenção da presidente, disse um assessor, é despertar o “espírito animal” dos empresários, expressão que o ex-ministro Delfim Netto, conselheiro de Dilma, costuma usar para salientar a influência que as expectativas criadas pelo Planalto têm nas decisões dos investidores. A relação dos 27 pesos-pesados da economia chamados pelo governo é encabeçada pelo empresário Jorge Gerdau, do setor siderúrgico, que assessora a presidente na área de gestão e competitividade e ajudou-a a elaborar a lista. Também foram convidados Lázaro Brandão (Bradesco), Roberto Setúbal (Itáu), Emílio e Marcelo Odebrecht, Sérgio Andrade (Andrade Gutierrez), Luiz Nascimento (Camargo Corrêa), Murilo Ferreira (Vale), José Roberto Ermírio de Moraes e Frederico Curado (Embraer).

Se os empresários repetirem em público o que dizem em conversas reservadas, Dilma ouvirá que a bola do jogo está nas mãos do governo, que teria que melhorar as condições da economia para que eles se sintam encorajados para voltar a investir. Nos encontros com assessores presidenciais, a principal reclamação do setor é que o próprio governo incentiva a direcionar parte do caixa para aplicações financeiras ao não agir contra os elevados custos tributários e logísticos.
(…)

Voltei

Entendo que o tal “lado animal” do empresariado compreende investir para obter lucros, né? Essa turma, felizmente, costuma gostar desse negócio — embora boa parte da publicidade das empresas sugira, hoje em dia, que as empresas brasileiras só pensam em produzir cidadania e preservar o verde para não deixar a Marina Silva chateada. Vivo esperando o momento em que os bancos, por exemplo, vão lançar o spread ecológico.

Sim, claro!, é melhor um governo que dialogue com o empresariado do que um que não converse e o mande plantar batatas. Em si, a coisa é bacana e tal. Mas qual é a pauta? Ninguém sabe, e eu ousaria dizer que ela não existe. Essa é uma reunião decidida pelo marketing, não por uma postura madura, uma estratégica decidida, com uma agenda definida a ser cumprida.

Ninguém reúne todo esse pibão aí para “bater uma DR”, para “discutir a relação”. Não que eu desconfie da competência da presidente Dilma para dar aula de capitalismo ao empresariado. Ela já deu aula, na juventude, consta, até de marxismo — que é coisa bem mais complicada. Mas vai dizer o quê? Vai fazer como técnico de vôlei quando pede tempo para interromper uma sequência de pontos do adversário: “Vamos lá, pô, os caras tão pegando a gente! Tem de ter mais garra!”? Estaria faltando adrenalina àquela linha de ataque?

Farei uma pergunta que se refere a Dilma e para os oito anos de governo Lula, tão apreciado, consta, pela turma: qual foi mesmo a grande mudança ou grande avanço da gestão petista, que independesse dos humores da economia mundial, além de juros subsidiados e desoneração tributária ad hoc? Alguém aí é capaz de citar uma ao menos, que tenha se integrado como patrimônio permanente?

Como é preciso lutar pela tal agenda positiva, lá vamos nós. Esse PAC do PAC vai render aos menos uns dois meses de noticiário…

21 de março de 2012
Por Reinaldo Azevedo

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