"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 30 de abril de 2012

HISTÓRIAS DO JORNALISTA SEBASTIÃO NERY


A VELHA E A NOVA "ARTE DE FURTAR"

Quando Franco Montoro chegou ao governo de São Paulo, em 83, seu suplente Fernando Henrique assumiu o Senado na vaga dele, Mário Covas foi nomeado prefeito da Capital e José Serra super-secretário do Planejamento, uma espécie de primeiro-ministro estadual.

Como na famosa marchinha do Clube dos Cafajestes, faltava um: Sérgio Motta. Fernando Henrique e José Serra puseram Sérgio Motta na Eletropaulo, para “operar”. “Operar”, na gíria do poder, quer dizer faturar. Sérgio Motta foi para a Eletropaulo faturar, arranjar dinheiro para o projeto político do grupo.
Com sua gordura e sua garra, Serjão tinha experiência, e muita, de fazer dinheiro, sobretudo com o governo. Desde a AP (Ação Popular), pela qual Serra se elegeu presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), em 63, no congresso de Petrópolis, Serjão já era o tesoureiro do grupo.

Quando Fernando Henrique foi para o Chile, com passaporte e portanto não exilado, e Serra também, sem passaporte e portanto exilado de verdade, Serjão, daqui, bravamente arranjava e generosamente mandava ajuda financeira para os dois. Quando Fernando Henrique se candidatou em 78 ao Senado, por nunca ter sido cassado, Serjão foi o tesoureiro da campanha dele.

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COALBRA E ELETROPAULO

No governo Figueiredo, a partir de 80, Serjão deu seu grande golpe. Conseguiu o apoio e muito dinheiro público com o general Golbery, e criou a Coalbra (Companhia de Álcool do Brasil), para montar usinas de álcool de madeira, importadas da União Soviética. Um dos diretores da Coalbra era o ministro Paulo Renato. A “thurma” de Fernando Henrique vem de longe.

O vice-presidente de Figueiredo, Aureliano Chaves, coordenador, no governo, da área de energia, ficou contra o projeto por achar que, além de antiecológico e uma agressão ao meio ambiente, era um absurdo econômico produzir álcool de madeira em um País com tanta terra e tanta cana.

Mas Golbery e Serjão conseguiram a aprovação do ministro César Cals, de Minas e Energia, e do presidente Figueiredo. Uma das usinas foi instalada, jamais funcionou um dia sequer e está lá, até hoje, em Uberlândia, como uma carcassa fantasma.
O prejuízo do governo foi de mais de US$ 200 milhões.
Nunca mais Serjão foi pobre nem fraco. Nem ele nem o grupo. Tinham descoberto o caminho das pedras públicas. Da Coalbra falida, Serjão pulou para a Eletropaulo, em 83. E passou a azeitar, mais ainda, o projeto político, econômico e financeiro da turma.

Ele tinha razão, em seu último bilhete, a Fernando Henrique, à beira da morte: – “Fernando, não se apequene”. Justiça se lhes faça, diante do fácil dinheiro público eles nunca se apequenaram. E o PT aprendeu tudo com eles.

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