"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 4 de abril de 2012

POLITIQUEIROS: NÃO BRINQUEM COM O EXÉRCITO COLOMBIANO

Internacional - América Latina

Por que estes ilustres demagogos congressistas não se dedicam a estudar o Plano Estratégico das FARC, para que, com leis e ações legítimas, blindem as Forças Militares da guerra jurídica dos comunistas armados e desarmados?


Insólito. Com reprovável oportunismo, um grupo de demagogos congressistas colombianos utilizou a morte de 11 militares em Arauca para pôr em dúvida a preparação das tropas para combater o narcoterrorismo comunista, e dar a entender que o parlamento pode intervir na organização interna e direção das Forças Militares.

Esquecem os ilustres e doutos congressistas que esses soldados deram suas vidas em defesa da imperfeita democracia, que permite ter um parlamento infestado por enfermidades letais para a institucionalidade materializadas em corrupção, politicagem, salários imerecidos, ameaças de planos tartaruga, pensões escandalosas, viagens desnecessárias, diárias de turismo parlamentar, carros, escoltas, nuvens de improdutivos assessores, etc.

Também “esquecem”, estes oportunistas congressistas, que as FARC existem porque estão contra um parlamento que elas consideram corrupto, decomposto e traidor dos interesses nacionais.

Inclusive esquecem que mil e uma vezes Tirofijo, Jojoy, Cano, Timochenko e os demais bandidos do Secretariado das FARC, disseram em mais de uma ocasião que as FARC existem para combater e destruir essas castas corruptas, e que não vão entregar as armas para se incorporar ao “sistema podre” que eles têm combatido durante décadas.

Do mesmo modo, os mencionados congressistas esquecem que os colombianos que os elegeram necessitam deles obras, ações concretas e soluções para os problemas que afligem suas regiões, entre outras coisas, causados por eles e seus antecessores.

As pessoas humildes das classes 1, 2, 3 e 4 são fonte nutriente de oficiais, sub-oficiais, soldados e agentes de polícia mas, por desgraça, também veia que alimenta as guerrilhas comunistas, os narcotraficantes e muitos delinqüentes comuns, inclusive os corruptos que assaltam o erário público.

Essa massa sem poder político que não quer dar seu voto ao demagogo de turno e sua respectiva maquinaria, espera que a pobreza, a miséria e a violência sejam erradicadas como produto das ações governamentais, legislativas e jurisdicionais, nunca da demagogia ou da politicagem barata.

Seria muito melhor que os loquazes congressistas interessados em tirar vantagens baratas com a dor do povo colombiano e o drama das Forças Militares - que em contraste os mantêm em seus cargos -, pensassem e atuassem na necessidade de melhorar os salários das tropas, em fazer com que o governo nacional cumpra com o estabelecido desde 1992 com o nivelamento salarial, em melhorar o cada vez mais insuficiente serviço de saúde militar, e em fortalecer o Foro Militar e a defesa jurídica dos que, para defender castas corruptas ou ineptas, entregam até suas vidas ou acabam encarcerados.

A Colômbia está em guerra contra o narcoterrorismo comunista e os cúmplices das FARC enquistados no Foro de São Paulo. O único bastião que tem claro o problema e que cumpre a missão constitucional está nas Forças Militares. Inclusive, desgraçadamente, muitos dos que hoje são julgados podem ter cometido erros, convencidos de que estavam salvando a pátria. Em contraste, os primeiros beneficiados desse sacrifício são personagens sempre intocáveis incrustados no alto governo, nas altas cortes e no Congresso da república.

Entretanto, com disciplina e demasiada fé em que a Colômbia mudará, os soldados desprotegidos no campo jurídico vêem atônitos como uma corte vulnera a lei na “estranha” escolha da Promotora Viviane Morales, e depois, por obra e graça da dialética bajuladora, um ilustre advogado de toga e poder infinito diz que houve sim uma conduta atípica mas que tudo “foi de boa-fé” [1].

Isso significaria que a conduta irregular de um funcionário público de nível baixo chama-se prevaricar, mas nos altos escalões judiciais muda de nome e se denomina “equívoco de boa-fé”.

O curioso é que essa mesma corte, que considerou inválidas as provas dos computadores de Reyes por razões que não são muito claras e se justificam com o argumento de que as decisões dos juízes se respeitam, hoje elegeram em três horas outro promotor, em que pese que durante o governo Uribe dilataram três anos o promotor em interinidade, por razões que tampouco são claras nem convincentes.

Cabe perguntar aos loquazes congressistas que querem pôr as Forças Militares contra a parede, se não seria mais saudável para a Colômbia que o questionado parlamento colombiano indagasse e se aprofundasse em assuntos pontuais, tais como:

Por que não investigar o Congresso em seu conjunto pelas responsabilidades política, moral e judicial que lhe assiste, pelo atraso que campeia na Colômbia derivado da corrupção e politicagem?

Por que não investigar até às últimas conseqüências as altas cortes, por decisões aberrantes contrárias aos interesses nacionais que, além disso, ao que parece estão infectadas por atos de corrupção e carrosséis de nomeações e situações não muito claras de alguns deles com um italiano amigo do criminoso Mancuso?

Por que não investigar os presidentes da República e ministros de Defesa que desde 1992 fizeram vista grossa com o nivelamento salarial dos sacrificados militares que os mantiveram em seus cargos, não previram o colapso do sistema de saúde, nem fizeram nada tangível pela defesa jurídica das tropas?

Por que não dotar com melhores equipes de inteligência, meios de transporte e logística adequada os soldados de contra-guerrilhas que, como o caracol, andam com a casa nas costas e às vezes com a lápide?

Por que o Congresso da República não legisla para fazer com que a corrupção seja declarada delito de lesa- humanidade, para que todos os ladrões de colarinho branco que roubaram o erário público sejam encarcerados e obrigados a devolver o dinheiro que exauriram dos orçamentos oficiais?

Por que estes ilustres demagogos congressistas não se dedicam a estudar o Plano Estratégico das FARC, para que, com leis e ações legítimas, blindem as Forças Militares da guerra jurídica dos comunistas armados e desarmados, e para que obriguem os funcionários públicos corruptos e ineptos a renunciar ou a cumprir com sua missão sob pena de ser encarcerados?

Isso, e muito mais, é o que deveriam fazer os congressistas frente ao problema da guerra que eles e seus antecessores geraram. Tudo, menos fazer lenha da árvore caída e procurar ave-marias com a hipocrisia do derramamento de sangue dos soldados, que pelos complexos descaminhos da democracia sustenta a estrutura do que as FARC chamam de “sistema podre”.



Nota da tradutora:

[1] O caso citado pelo autor refere-se à ex-Promotora Geral que assumiu o cargo e permaneceu até há poucos dias, quando era aposentada por invalidez em decorrência da perda de um olho o que, teoricamente, a impedia de trabalhar. Além disso, a referida senhora fora casada com o “ex” terrorista do M-19, Carlos Alonso Lucio, separou-se dele para assumir o cargo e depois reataram a relação. Foi esta mesma senhora, que participava de encontros políticos com o marido, então miliciano do M-19, que julgou o caso do Palácio da Justiça, assaltado, massacrado e parcialmente destruído por terroristas do M-19. Em qualquer país democrático do mundo, onde vige o Estado de Direito, a promotora Viviane Morales estaria impedida (sem contar o caso da aposentadoria para à qual a deixa “incapaz” de exercer qualquer atividade profissional, além da respectiva remuneração) de exercer essa função por conflito de interesses. No entanto, na Colômbia ela pôde exercê-lo e o seu colega viu nesta aberração apenas um “equívoco de boa-fé”.

Cel. Luis Alberto Villamarín Pulido
04 Abril 2012
Tradução: Graça Salgueiro

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