"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 24 de abril de 2012

SOBRE A GUERRA DO RIO: 'O ESTADO POLICIALESCO É UTOPIA'


Dois assaltos a imóveis ocorreram no ultimo final de semana no bairro do Jardim Botânico, na Zona Sul do Rio, num período de seis horas, entre a noite de sábado e a madrugada de domingo. No assalto a uma residência os moradores, amigos da família e o próprio vigia da rua tiveram pertences roubados e permaneceram como reféns por cerca de 45 minutos no interior do imóvel.
Uma das vítimas disse que os bandidos, durante o assalto, estariam sendo instruídos de fora por radiostransmissores.

No outro caso, de assalto a uma produtora de vídeos, ao soar o alarme a PM logrou prender um dos três assaltantes. Era residente na ladeira dos Tabajaras, em Copacabana.
Tais fatos nos trazem reflexões e nos remetem a uma análise conjuntural que envolve o contexto da violência urbana observada no Rio e em suas cercanias há alguns anos.


Com a recente implantação das UPPs em morros e favelas da capital e a permanente repressão ao tráfico de drogas, o banditismo, além de migrar para outras regiões do entorno do Rio vem desenvolvendo outras modalidades de práticas criminosas na tentativa de repor suas perdas financeiras com o comércio de drogas.

O assalto a residência, o sequestro-relâmpago e o roubo de veículos e de cargas são modalidades de delito, com base na ação do elemento surpresa, praticado pela criminalidade que tem desafiado a inteligência policial ultimamente.

É inimaginável, no entanto, pensar na criação do estado policialesco, a sociedade total de controle, como solução de todos os problemas da violência. Isso é utopismo.
A polícia onipresente não existe e nunca existirá. O estado, ainda que tenha como projeto incorporar aos seus quadros, somente este ano, 7 mil novos policiais militares, conforme noticiado em recente matéria jornalística, tem limites de dotação orçamentária e de caixa para contratação de pesssoal e há outras áreas também prioritárias da administração pública como saúde, educação, habitação, saneamento básico.
A polícia sempre terá o cobertor curto por mais que se contrate novos policiais. Isso é fato real.

Por outro lado, o crime é um fenômeno cíclico, dinâmico, cuja finalidade precípua é o lucro. Também é certo que a cobrança por mais e mais policiamento ostensivo sempre existirá. É preciso, porém, relativizar as possibilidades do aparelho policial.
As 11 cracolândias existentes na cidade do Rio, com os 3 mil dependentes da ‘droga da morte’, são, por exemplo, muito mais problema de saúde pública do que de polícia.
Há que se considerar ainda que a violência é um fenômeno presente e crescente no trânsito, nas redes sociais, no interior de escolas públicas e particulares, entre torcidas organizadas de futebol, contra minorias e mesmo em atos reivindicatórios por justiça social no mundo. Vivemos num mundo mais violento. Também não há dúvida disso.

Entretanto, a melhor estratégia, para conter a criminalidade atípica do Rio, é tornar a polícia permanentemente proativa – a que se antecipa ao crime com base em dados da inteligência policial.
É preciso operar permanentemente e sufocar os redutos do tráfico, neutralizando o crime em sua origem.
A polícia reativa, a que reage pós-fato, acabou no mundo. Assaltantes de residência, ladrões de carro ou os que cometem sequestro-relâmpago geralmente saem de morros e favelas e para lá retornam.
Ou a polícia se torna definitivamente proativa ou o elemento surpresa sempre a surpreenderá. O estado policialesco é inimaginável e irreal.

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