"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 17 de maio de 2012

É INTERESSANTE A PRÁTICA DO ESCULACHO, UMA BOA MANEIRA DE PUNIR OS TORTURADORES DE 64

 
Não há crime hediondo como a tortura, quando o algoz usa do poder de que dispõe para seviciar a vítima indefesa, não importa se o torturador é militar, civil ou um simples sequestrador – o crime abjeto é o mesmo.
Mas é claro que o torturador que age sob o manto da farda militar tem a circunstância agravante de representar um Poder desmesurado, não há dúvida. Fica mais covarde ainda.

É preciso punir esses criminosos, não há dúvida. Mas acontece que o Supremo já decidiu que a Lei da Anistia valeu, está em vigor e não pode haver condenação para os torturadores do regime militar. O que se pode fazer, então?
Ora, a solução já está encontrada. É o esculacho-escracho, uma manifestação que surgiu na Argentina e no Chile e que agora ganhou uma versão bem brasileira.

Assim, com o intuito de chamar a atenção da sociedade sobre a importância da Comissão Nacional da Verdade, que tem por objetivo investigar os crimes cometidos por agentes de Estado (torturas, assassinatos, sequestros) no período da Ditadura Militar (1964-1985), jovens manifestantes têm promovido atos de esculacho contra os torturadores.

Já foram feitos esculachos em diversas cidades. No Rio, o alvo foi o torturador José Antônio Nogueira Belham, em frente a sua casa, no Flamengo, Zona Sul do Rio. Ele foi um dos responsáveis pela morte do deputado Rubens Paiva.
Em Guarujá, São Paulo, o esculachado foi Maurício Lopes Lima, tenente-coronel reformado, reconhecido por Dilma Rouseff como o seu torturador.

É claro que a versão brasileira do esculacho tende a ser muito mais alegre e festiva, como é do nosso temperamento, que comprova a cordialidade de nosso povo na sábia visão do sociólogo Sergio Buarque de Holanda, o pai do Chico (que também apoiava a guerrilha, teve de deixar o país mas não chegou a ser torturado).

Daqui a pouco, vão aparecer surdos, bumbos, caixas e tamborins, e o esculacho vai ficar completo, podem apostar. E assim vai indo o Brasil, este estranho país onde tudo acaba em pizza ou em… samba.

17 de maio de 2012
Carlos Newton

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