"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 31 de maio de 2012

HISTÓRIAS DO JORNALISTA SEBASTIÃO NERY

FORTUNA DE BANQUEIRO 

Serafim Rodrigues Morais, o Semi Rodrigues, boiadeiro, fazendeiro, comerciante, industrial, uma das maiores fortunas do Estado, comprou o Agrobanco de Goiás. Um dia, viu nos jornais uma declaração do ministro Ângelo Calmon de Sá dizendo que seu Banco Econômico ia comprar o Agrobanco. Não havia nada daquilo. Era uma jogada do Ângelo. Filho de mineiro, do coronel Miguel Rodrigues, Sami Rodrigues ficou calado. Até que recebeu um chamado do Banco Central para ir lá. Foi.
- O senhor é o Serafim Rodrigues Morais? E quem é Semi Morais?
- Sou eu mesmo.
- Como é que pode? O senhor é Sarafim ou Semi?
- Sou os dois. Meu nome é Serafim. Mas em Goiás, Minas, São Paulo, Mato Grosso, por aí onde negocio, só me chamam de Semi. Faz diferença?
- Faz e muitas. Banqueiro só pode ter um nome. Banqueiro com dois nomes não dá. O senhor não pode ser dono do Agrobanco.
Semi entendeu o recado e a chantagem, levantou-se:
- Olhe, moço. Tenho dois nomes e garanto os dois. Conheço banqueiro aí que não garante nem os próprios cheques.
Algum tempo depois, o banco Econômico, de Ângelo Calmon, quebrou.

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É LAMA

Semi Rodrigues saiu de lá, me contou a conversa e se lembrou do pai:
- Meu pai me dizia que açude se faz assim. Você pega um ponto de água, começa a fazer uma barragem, apanha os tocos das árvores, as pedras ali perto, a terra que encontrar, o lixo da fazenda, o esterco, vai juntando tudo, aumentando a barragem. A água vai subindo suja, imunda. Daí a pouco vai clareando. Quando o açude enche, a água está clarinha, clarinha, uma lindeza. Você não pode é mexer embaixo, que é lama. Fortuna de banqueiro é lama.

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NO IMPÉRIO

Ontem, vimos que, de 1822, quando foi proclamada a Independência, a 1889, quando acabou o Império, o Brasil fez 17 empréstimos com os banqueiros ingleses: tomou 62 milhões, 760 mil e 932 libras, recebeu 51 milhões, 632 mil e 877 libras e pagou 152 milhões, 11 mil e 251 libras. Era a lama do açude. Na República foi pior. Em libra, em dólar e até em franco. De 1893 a 1928, 23 empréstimos. As garantias eram as alfândegas de todo o País confiscadas.

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NA REPÚBLICA

Quanto mais pagávamos juros, mais as dívidas aumentavam. Em 1922, no centenário da Independência, “81,28% do total de nossa receita ouro eram consumidos com o pagamento de juros da dívida externa federal. O Diário Oficial de 7 de fevereiro de 1934, pág. 2695, publicou a exposição do ministro da Fazenda, Osvaldo Aranha, a Getúlio Vargas, que terminava assim: “Em contos de réis, o Brasil recebeu 10 milhões mais ou menos, pagou 8 milhões e meio e ainda deve de capital quase 10 milhões, sem contar o serviço de juros”.
De lá para cá, o tempo passou e nada mudou. O Brasil continua na lama dos banqueiros.

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