"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 20 de julho de 2012

A SÍNDROME DA SINOCRÍTICA


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Mitt Romney acusa China de precificação predatória (Reprodução/KAL)
Democratas e Republicanos estão elevando o tom de seu discurso contra a segunda maior economia do mundo

Mitt Romney, como era de se esperar do autor de um livro chamado “No Apology: The Case for American Greatness” (Sem Pedir Desculpa: os Argumentos a Favor da Grandeza Americana), afirma que, caso eleito, não hesitaria em colocar a China em seu devido lugar. Em seu primeiro dia como presidente, ele prometeu declarar a China como manipuladora de sua moeda, uma atitude que poderia disparar um aumento generalizado de impostos sobre importações chinesas.
Em termos mais gerais, ele diz que forçará a China a obedecer as regras do comércio e investimento internacionais: chega de roubo de propriedade intelectual, chega de subsídios desleais para empresas estatais, chega de precificação predatória. E a economia não é sua única preocupação: ele promete punir a China com mais vigor por suas infrações de direitos humanos e aprimorar as forças armadas americanas para reagir ao crescente poderio militar chinês.

Romney zomba da sugestão de que ele pretende criar uma guerra de comércio exterior. Um conflito não declarado já está acontecendo, ele sugere, e a China está ganhando. Ademais, caso os EUA imponham impostos punitivos sobre bens de consumo chineses, ele argumenta, a China não ousaria retaliar à mesma altura porque tem mais a perder em uma hipotética escalada de hostilidades. A China está vendendo aos EUA, o candidato assinala, US$ 273 bilhões a mais por ano do que os EUA estão vendendo para a China. “Se você não está disposto a enfrentar a China, você será atropelado por ela”, ele insiste.

A reposta óbvia a isso tudo é não dar importância. Os candidatos podem rugir contra a China em comícios da campanha, mas tendem a se tornar mais moderados quando empossados. Há quatro anos, Obama prometeu declarar claramente que a China manipula a sua moeda, justamente o que Romney exige agora. Desde então, Obama perdeu a oportunidade, duas vezes ao ano, de fazer isso. Isso se deve, em parte, à valorização da moeda chinesa dos últimos anos e à redução de seu superávit comercial. Mas isso se dá principalmente porque comprar uma briga com o parceiro comercial mais importante de todos – além do maior detentor de títulos da dívida americana – não parece ser uma ideia inteligente quando você será culpado pelas consequências econômicas disso.

O problema com o tom agressivo é que este reforça a sensação entre os líderes chineses de que os EUA pretendem atrapalhar a “ascensão pacífica” de seu país. O fato de que ambos os partidos estão satisfeitos em retratar a China como a vilã da globalização gera uma impressão de hostilidade uniforme. Isso, por sua vez, enfraquece a mensagem americana de que a China é despropositadamente paranoica e defensiva. Isso também tem o efeito de debilitar os eleitores americanos que gostariam de expressar uma visão mais otimista das consequências do comércio exterior.

20 de julho de 2012

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