"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 20 de julho de 2012

OBAMA E SEU ORIENTE-MONSTRO

Os EUA defendem a democracia há 236 anos: foi o que disse Hillary Clinton no Cairo.
Quer dizer: ela já apagou da história as mais de 160 intervenções armadas que o imperialismo norte-americano obrou pelo mundo, a partir dos anos 1940; as guerras do período da Guerra Fria, no Vietnã, no Laos, no Cambodia e no Líbano; os golpes orquestrados pela CIA na Guatemala, Indonésia, Brasil, Chile e Argentina; e as guerras do período pós-Guerra Fria no Iraque, Somália, Iugoslávia e Afeganistão.

Hillary Clinton garante que o governo Obama mantém o mesmo compromisso em todas essas ações.
De fato, se se considera a estratégia posta em prática pelo Republicano George W. Bush, do “Oriente Médio Expandido” (para incluir o Norte da África e a Ásia Central), Barack Obama, Democrata (e recipiendário de um Prêmio Nobel da Paz), mantém, sim, o mesmo compromisso, com a mesma estratégia, cujo alvo é toda a região do Pacífico Asiático, em declarada provocação a China e Rússia.


O primeiro passo foi à guerra contra a Líbia, país que (como Bill Clinton e Bush fizeram na Iugoslávia) foi demolido, como estado unificado, para implantar no poder governantes servis, que obedeçam Washington.
Assim se chegou a “eleições livres” na “Líbia livre”, vencidas pelo “liberal” Mahmoud Jibril, cuja vitória passa a ser responsabilidade do desejo popular.

Quem diz isso ignora o fato de que os EUA e outras potências ocidentais gastaram milhões, na Líbia, para comprar o apoio de organizações e grupos tribais. Ignora também que Jibril é homem de confiança de Washington, economista formado nos EUA e propagandista do neoliberalismo econômico no mundo árabe.
Em 2007, Jibril foi nomeado presidente do Conselho de Governo líbio para o desenvolvimento econômico, organismo ligado a empresas transnacionais de capital norte-americano e britânico.

Nesse posto, Jibril alertou Washington para o fato de que Gaddafi bloqueara o projeto de privatizar a economia líbia e formar um governo ou grupo de influência no governo, de tendências ocidentalizantes.
Disse também que aumentavam as pressões chinesas e russas. A vitória de Jibril começou a delinear-se, nas mesas de conspiração.

Dia 30/3/2011 (dez dias antes do início da guerra contra a Líbia), o New York Times escreveu, com informação de releases do governo Obama: “Se a intervenção de forças norte-americanas e ocidentais derrubar Muammar Gadhafi, Mahmoud Jibril pode ser o novo líder líbio.”

A guerra contra a Líbia é o modelo que os EUA adotaram para desintegrar outros estados, entre os quais Síria e Irã, que impedem o avanço na direção leste. Dado que vários países relutam, sem aceitar a implantação de bases militares dos EUA em seu território, o Pentágono está ocupando águas territoriais, a começar pelo Golfo Pérsico, e avançando gradualmente na direção leste, usando navios especiais que servem como bases flutuantes para forças especiais.

Outras bases aéreas e navais já estão instaladas ou foram ampliadas, nas Filipinas, em Cingapura, Austrália e outros países. Em Cingapura, está ancorado o primeiro “navio de combate litorâneo”.
É um novo tipo de navio de guerra, que se pode aproximar da costa e atacar áreas em terra. A Marinha dos EUA já deslocou cerca de 50, para o Pacífico.

Além da ofensiva diplomática, para criar disputas entre a China e países vizinhos, Clinton fez uma “visita histórica” ao Laos. Prometeu $9 milhões para o trabalho de remover minas e posou para fotografias ao lado de um menino mutilado, vítima de munição não detonada, cerca de 30% dos 2 milhões de toneladas de bombas que os EUA descarregaram contra o Laos em 1964-1973. Claro. Sempre defendendo a democracia.
(Artigo enviado pelo jornalista Sergio Caldieri)

Manlio Dinucci(Il Manifesto, Itália)

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