"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 9 de julho de 2012

POETA E CRIMINOSO

No sábado (7), faleceu o político paraibano Ronaldo Cunha Lima (76), exerceu todo os cargos eletivos de seu estado; vereador, prefeito, deputado estadual e federal, senador e governador.

Fora de sua Paraíba, tornou-se conhecido como poeta, todavia seu nome teve repercussão nacional no ano de 1993, pelo caso Gulliver, que foi quase ignorado pela mídia, durante suas exéquias.



No dia 5 de novembro desse ano, quando ele exercia o cargo de governado, entrou no restaurante Gulliver, em João Pessoa e deu três tiros no ex governador do mesmo estado Tarcísio Burity. Cunha Lima tinha a intenção de vingar-se publicamente do agredido.

Os tiros foram disparados em reação às supostas críticas que Burity teria feito ao filho de Ronaldo Cássio Cunha Lima, então superintendente da Sudene. Isso teria sido feito em uma entrevista, concedida ao vivo minutos antes, em uma emissora de TV da capital.

Burity sobreviveu aos tiros, embora tenha ficado alguns dias em coma. O episódio e o ferimento causaram-lhe outros problemas de saúde e, dez anos depois do crime, no dia 8 de julho de 2003, ele morreu de falência múltipla de órgãos. Em sua defesa, Ronaldo Cunha Lima alegou que Burity o ameaçava e que não premeditou o crime.
Cunha Lima renunciou ao cargo de deputado federal (2007), para livrar-se do foro privilegiado que lhe permitia ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal STF e o caso passou a ser competência da justiça comum no seu estado, onde deveria ser julgado por júri popular. A intenção do réu era estar no seu reduto, onde teria facilidades em manipular a magistratura e em última instância pressionar, os jurados.

A coisa funcionou, pois o criminoso ficou impune nessa agressão, que em médio prazo levou à morte Burity.
Seu filho senador (PSDB-PB) junto ao caixão do pai em câmara ardente ainda disse: “Vai ser um eterno poeta. Um humanista , um poeta, um homem público que mostrou que é possível fazer política com decência, com dignidade”.
Pecado que não se ficou sabendo a opinião dos três filhos de Tarcísio Burity.

09 de julho de 2012
Giulio Sanmartini

(*) Fotomontagem: Cunha Lima e Burity

Nenhum comentário:

Postar um comentário