"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 18 de agosto de 2012

ASILO POLÍTICO A ASSANGE É TRUNFO DE CORREA PARA LIMPAR IMAGEM

 

Chefe de Estado equatoriano ficou desgastado no exterior ao processar jornalistas

O presidente equatoriano Rafael Correa fala durante entrevista para radio local
Foto: Eduardo Santillán/AFP
O presidente equatoriano Rafael Correa fala durante entrevista para radio localEduardo Santillán/AFP
BUENOS AIRES — A decisão do governo equatoriano de conceder asilo ao fundador do WikiLeaks, Julian Assange, faria parte de uma estratégia traçada por assessores estrangeiros do presidente Rafael Correa para limpar sua imagem no exterior, deteriorada nos últimos meses pelos conflitos com meios de comunicação locais, principalmente com o jornal “El Universo”.

De acordo com fontes equatorianas que conhecem muito bem o funcionamento do governo, colaboradores espanhóis e nicaraguenses estão trabalhando no âmbito do Ministério das Relações Exteriores sob as ordens do chanceler Ricardo Patiño, que no passado reconheceu ter estado vinculado ao governo sandinista.

Essas mesmas fontes contam que os assessores estrangeiros de Correa se reuniram com Assange antes de o australiano ter apresentado formalmente o pedido de asilo ao Equador. Tudo teria sido detalhadamente planificado, para beneficiar ambas as partes. No mesmo encontro, teriam negociado uma longa entrevista concedida pelo presidente equatoriano a Assange, divulgada em seu programa num canal de TV russo.

- A disputa com o “El Universo” prejudicou muito a imagem de Correa no exterior. O asilo a Assange foi a maneira encontrada pelo governo para mostrar um presidente que defende a liberdade de expressão - disse uma das fontes consultadas pelo GLOBO, que pediu para não ser identificada.

O caso “El Universo”, iniciado por uma denúncia do chefe de Estado contra um dos principais jornais do Equador pela publicação de uma artigo de opinião sobre a revolta policial de setembro de 2010, teve grande repercussão internacional. A decisão de Correa de exigir uma indenização de US$ 40 milhões, e o posterior exílio dos donos do diário e do autor do artigo, foram noticiados pelos principais jornais do mundo.

Para Claudio Paolillo, da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), “chamou muito a atenção que Assange tenha escolhido como refúgio um dos governos que mais persegue a imprensa na região”.

Os assessores espanhóis do presidente equatoriano pertenceriam ao Centro de Estudos Políticos e Sociais (Ceps) e estariam trabalhando junto com colegas da Nicarágua. Em Quito, analistas locais consideram que a jogada política do governo poderia fracassar, já que, segundo eles, é evidente a contradição entre a postura de Correa no caso Assange e sua relação com a mídia local.

- O asilo a Assange voltou a colocar as brigas do presidente com jornalistas locais no centro da cena - opinou Simón Pachano, da Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (Flacso).
O especialista fez um alerta:

- Alguém que não conhece a política equatoriana pode achar que Correa, de fato, está reforçando seu compromisso com a liberdade de expressão. Mas sabemos que a situação é bem diferente.
Até mesmo os que estão de acordo com a concessão do asilo, como o congressista Alberto Acosta, um antigo aliado de Correa, consideram “um absurdo que um governo que restringe a liberdade de expressão em seu país queira tornar-se ícone da imprensa livre no mundo".

- O projeto de reforma do Código Penal do governo proíbe a divulgação de documentos públicos, como fez o WikiLeaks. É tudo uma grande farsa - declarou Acosta, pré-candidato à Presidência para as eleições de 2013.

18 de agosto de 2012
Janaína Figueiredo
Correspondente

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